Estudantes brasileiros que desejam estudar nos Estados Unidos têm enfrentado significativas incertezas sob as políticas do governo Trump, que incluem cortes na educação e uma postura agressiva em relação à imigração. As consequências desses atos têm levado muitos a reconsiderar seus planos, tornando destinos alternativos como Canadá e Malta mais atraentes.
Relatos de medo e insegurança estão se tornando comuns entre brasileiros que já se encontram nos EUA ou que planejam ir. Muitos expressam um receio constante de deportação e o cancelamento de programas de intercâmbio, conforme evidenciado por diversos relatos anônimos. Em 2024, mais de 41 mil estudantes brasileiros residiam nos EUA, cifra que indicava uma recuperação em comparação aos níveis antes da pandemia de Covid-19.
Um exemplo é uma estudante maranhense que vive desde 2022 em Connecticut e recentemente completou um mestrado. Ela compartilha que sua universidade, após a participação em protestos, acabou chamando a polícia para conter estudantes, o que gerou um clima de tensão e medo no campus. Isso reflete um ambiente de "bolha" de estrangeiros perseguidos, onde diretrizes não claras em relação ao futuro dos internacionais geram ainda mais insegurança.
David Nemer, antropólogo que pesquisa questões relacionadas à extrema direita e fake news, também expressa preocupações semelhantes. Com dez anos de experiência como professor nos EUA, Nemer notou uma drástica queda no número de estudantes brasileiros interessados em suas aulas desde a ascensão de Trump. De 23 pedidos por ano durante a administração de Biden, passou a receber apenas dois pedidos. A instabilidade também se reflete no cancelamento de programas de intercâmbio devido ao congelamento de recursos por parte do Departamento de Estado.
A professora Dayane Brito, que gerencia um projeto educativo no Maranhão, também experimentou a frustração em relação a oportunidades de estudo. Ela foi selecionada para um programa que daria início on-line e terminaria na Califórnia, porém, ao encerrar um módulo essencial, o Departamento de Estado cancelou sua viagem às vésperas da emissão do visto.
Com a alta do dólar e a hostilidade crescente em relação aos imigrantes, muitos estudantes estão explorando novas opções fora dos EUA. Carol Krobath, da CI Intercâmbio, destacou uma queda de 25% nas inscrições para cursos de inglês nos EUA, enquanto o Canadá e Malta emergem como novas preferências. Por sua vez, Ana Paula Castro da AFS, uma organização com um século de história no intercâmbio de estudantes, mencionou que o processo de obtenção de vistos se tornou mais rigoroso, assim como além da dificuldade em encontrar famílias dispostas a receber estudantes brasileiros.
Apesar das adversidades, muitos estudantes relutam em abrir mão de seus objetivos nos EUA. Dayane Brito, mesmo após o cancelamento de suas viagens, afirmou que o governo atual passará, mas seu projeto de ensino e impacto permanecerá, reafirmando a resiliência frente a desafios políticos e econômicos.