Desminadores belgas removem projéteis da Primeira Guerra Mundial em áreas rurais, garantindo segurança durante construções. Reprodução: Globo
Nas planícies do noroeste da Bélgica, onde ocorreram algumas das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, equipes de desminagem atuam incansavelmente para encontrar e remover munições remanescentes do conflito. Anualmente, mais de 2.000 solicitações são atendidas, refletindo a magnitude da tarefa enfrentada pelos especialistas em segurança.
Recentemente, um desminador, Franjo, cuidadosamente retirou um projétil de 100 anos do solo e o depositou em uma caixa de areia em seu caminhão. A Bélgica, tendo sido um campo de batalha crucial entre 1914 e 1918, ainda possui vestígios desse passado e, por onde se olha, projéteis e munições de diferentes origens — britânicas, alemãs e francesas — surgem frequentemente na superfície.
O serviço de desminagem do exército belga, conhecido pelos acrônimos SEDEE em francês e DOVO em flamengo, foi fundado após a Primeira Guerra Mundial e concentra suas operações em torno de Langemark-Poelkapelle, ao norte de Ypres. Não apenas há uma vigilância constante sobre as áreas, mas também um esforço ativo para retirar as munições que ainda estão enterradas. A equipe de desminagem trabalha em colaboração com fazendeiros e equipes de construção, que frequentemente solicitam a remoção de materiais perigosos antes de iniciar suas atividades.
Jacques Callebaut, chefe de relações públicas da desminagem, compartilhou que, ao longo do ano, sua equipe descarta entre 200 e 250 toneladas de munições. Após coletarem os projéteis encontrados, a equipe avalia o nível de perigo de cada um, optando por detonações controladas ou incineração. Na maioria das vezes, os desminadores lidam com materiais que podem ainda conter explosivos e, em alguns casos, substâncias tóxicas como fósforo branco e gás mostarda.
Para aumentar a segurança, os desminadores utilizam tecnologia avançada. Equipamentos como raios-x e espectrômetros de neurônios são usados para examinar os explosivos e identificar materiais perigosos. Essa expertise torna a Bélgica um país de referência, com forças de outros países confiando em sua habilidade de manipular munições tóxicas — como recentemente aconteceu em um incidente na Noruega.
A história bélica da Bélgica como um campo de batalha estendido pelos séculos a torna única. Desde a derrotada de Napoleão em Waterloo até os horrores da Primeira e Segunda Guerras Mundiais, o legado de traumas ainda ressoa no solo. Historicamente, a Primeira Guerra Mundial deixou um legado muito mais significativo na forma de munições não detonadas do que a segunda, que apresenta menos vestígios em solo belga.
Os desminadores, portanto, não apenas representam um esforço para limpar a terra, mas também para respeitar a memória dos milhões que perderam a vida nas batalhas travadas ali. Este trabalho está longe de ser apenas uma resposta prática a um problema moderno; é, de fato, uma missão para lidar com o passado e garantir um futuro mais seguro para as próximas gerações.