Diretor da EMEF Espaço de Bitita, Claudio Marques, em debate na USP, enfrenta possível afastamento. Legenda da imagem. Reprodução: Globo
A Escola Municipal Espaço de Bitita, localizada no Canindé, São Paulo, é referência no Brasil por seu projeto educacional voltado à inclusão de imigrantes, crianças com deficiência e estudantes em situação de vulnerabilidade. No entanto, a recente decisão da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de afastar o diretor Claudio Marques da Silva Neto, um dos 25 diretores afetados, gerou apreensão na comunidade.
Com cerca de 800 alunos matriculados, a escola tem se destacado no acolhimento de estudantes de diversas nacionalidades, incluindo aqueles vinda da Venezuela, Bolívia e Afeganistão. O diretor Claudio Marques, que possui um currículo notável, incluindo um pós-doutorado em Portugal, será submetido a um processo de reciclagem definido pela Secretaria Municipal de Educação (SME), liderada por Fernando Padula. A data para o comparecimento na Delegacia de Ensino ainda não foi informada.
A comunidade escolar, preocupada com as consequências do afastamento, começou a mobilizar apoio de parlamentares e organizações da educação, com o objetivo de evitar a descontinuação de um projeto tão bem-sucedido. Tatiana Oliveira, uma mãe ativa no movimento, expressou seu receio com a situação: "Encontramos na Bitita um espaço realmente inclusivo; estamos com muito medo que o projeto acabe".
Na última segunda-feira (26), um grupo de pais organizou um ato de defesa da escola, coletando assinaturas para pedir a manutenção do diretor no cargo. Eles mencionaram que a comunidade desempenha um papel ativo na vida escolar, temendo que a saída de Claudio signifique uma possível privatização e perda de inclusão no atendimento aos alunos.
Uma das principais críticas da comunidade é a avaliação do desempenho da escola baseada no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que, segundo eles, não reflete a realidade dos alunos que frequentam a escola. A nota do Ideb da EMEF Espaço de Bitita caiu de 6,1 antes da pandemia para 4,8 em 2023, o que, de acordo com a direção, é influenciado pela presença significativa de crianças que têm o português como segunda língua.
"Quarenta por cento dos nossos alunos têm o português como segunda língua, e muitos deles estão em situação de vulnerabilidade social", explicou Claudio Marques. "Os alunos que chegam aqui enfrentam muitos desafios e precisam de um tempo maior para se alfabetizar".
A EMEF Espaço de Bitita atende muitas crianças de famílias que recebem assistência social e oferece um ambiente acolhedor, o que vem sendo notado como um ponto crítico em sua avaliação. O Ideb, que não considera a singularidade de cada escola, foi amplamente criticado por Claudio. "Uma escola de transição como a nossa enfrenta dificuldades que impactam diretamente nessas notas".
A SME, em resposta, informou que a requalificação dos diretores é um processo de desenvolvimento e aprendizado e que o termo "afastamento" não é apropriado. A nota divulgada pela SME destaca que a capacitação deverá aprimorar a gestão pedagógica e melhorar o aprendizado dos estudantes.
A comunidade continua a se mobilizar, ressaltando que a EMEF Espaço de Bitita recebeu uma série de prêmios pela sua contribuição à educação inclusiva. O projeto educacional foi reconhecido com o 1º lugar no prêmio Heitor Villa-Lobos da Educação Municipal, reconhecendo o trabalho feito com diversidade e inclusão na música e na literatura.
Em 2017, a comunidade conseguiu aprovar uma mudança no nome da escola, que foi sancionada apenas em junho de 2023, marcando a importância que a escola tem para a população local. As famílias esperam que a gestão atual reconheça e preserve a singularidade e a excelência do trabalho realizado na EMEF Espaço de Bitita, que é considerada um modelo a ser seguido por outras unidades educacionais.