Estudantes internacionais de Harvard adotam medidas extremas para evitar represálias do governo Trump. Reprodução: Globo
Estudantes estrangeiros em universidades dos Estados Unidos estão transformando suas rotinas em resposta à postura do governo Trump, que tem gerado um clima de medo. Desde a sua ascensão ao poder, o presidente dos EUA tem ameaçado instituições de ensino e implementado restrições à emissão de vistos estudantis, levando muitos alunos a apagar perfis e postagens em redes sociais, cancelar viagens ao Brasil e evitar participar de atividades acadêmicas.
Alunos de diversas nacionalidades relatam os impactos negativos que essa situação traz para suas vidas. A aluna brasileira Núbia, da Universidade Harvard, compartilha: "Acho triste pedir para você não colocar meu sobrenome na reportagem. Não estou cometendo um crime. Sinto muito, mas é um momento muito delicado, estou numa posição vulnerável". Essa insegurança levou os estudantes a tomarem medidas drásticas para proteger seu status legal nos Estados Unidos.
Entre as ações adotadas, muitos têm se afastado de grupos de Whatsapp, deixado de participar de protestos e se afastado de atividades extracurriculares. Em entrevistas, os alunos destacam uma constante sensação de vigilância e receio: "É uma política partidária e ideológica de criar esse sentimento de medo para que os estudantes se calem", reflete Núbia.
Os desafios começam antes mesmo da chegada ao país. Diego Scardone, da Harvard Brazilian Association, destaca a preocupação com novos alunos que aceitaram suas ofertas mas não conseguiram entrar nos EUA devido a restrições: "Eles comprometeram valores altos pela educação, mas agora não têm certeza se conseguirão o visto".
Aos que já estão estabelecidos, a incerteza se intensifica diariamente. "A cada semana, temos uma nova notícia. Hoje, meu status é legal, mas amanhã, talvez eu não possa mais ficar", menciona Núbia, evidenciando o impacto psicológico que essa incerteza traz. Carlos, também estudante em Harvard, compartilha sua experiência de já ter levado seus bens para o Brasil, temendo não conseguir mais voltar aos EUA.
Um episódio alarmante para a comunidade acadêmica foi a detenção de Rumeysa Ozturk, aluna turca que foi presa após apoiar manifestações. O medo de represálias e de perder o visto faz com que muitos evitem se envolver em atividades ou até mesmo sair de casa. Carlos menciona que a festa da comunidade brasileira em Boston foi drasticamente reduzida e muitos se sentiram inseguros para participar.
Estudantes como Mei Ling, da Universidade de Boston, estão também evitando qualquer presença nas redes sociais para não chamar a atenção do governo. Ela afirma que a perda do visto está frequentemente associada a registros policiais, e qualquer ativismo pode custar caro. A combinação de vigilância, medo e incerteza tem moldado a experiência dos estudantes internacionais nos EUA, mudando suas vidas e perspectivas em um ambiente acadêmico que deveria ser seguro e acolhedor.