MC Poze do Rodo é acusado de apologia ao crime e narcocultura após sua prisão. Legenda da imagem. Reprodução: Globo
A polícia civil do Rio de Janeiro está investigando o cantor de funk Poze do Rodo, sob a acusação de fazer apologia ao crime e de estar ligado ao tráfico de drogas. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que o artista utiliza sua música como uma ferramenta para disseminar a ideologia da narcocultura, associada ao Comando Vermelho. Curi menciona que as letras das músicas do cantor exaltam o uso de armas e drogas, além de fomentar disputas territoriais entre facções criminosas.
O termo 'narcocultura' se refere ao conjunto de símbolos, comportamentos e estéticas vinculadas ao narcotráfico. Esta cultura é normalmente retratada na música, filmes e séries, apresentando traficantes como figuras carismáticas e poderosas. Segundo Felipe Curi, as letras de Poze do Rodo não apenas glorificam a criminalidade, mas também são parte de uma estratégia mais ampla, que abrange MCs e influenciadores que ajudam a propagar essa ideologia, movendo recursos financeiros para o crime organizado.
A Polícia Civil, em uma declaração contundente, enfatizou que as letras de Poze possuem um impacto negativo significativo, muito mais danoso do que a ação de um criminoso com uma arma. Durante uma coletiva, Curi ressaltou que a realização de shows do MC serve para promover um estilo de vida criminoso, normalizando o uso de drogas e armas e trazendo lucro diretamente para os narcotraficantes. Ele destacou como isso financia crimes e alimenta uma violência endêmica nas comunidades afetadas.
MCs também investigados, como Cabelinho e Oruam, saíram em defesa de Poze, criticando a visão da polícia. Cabelinho argumentou que a representação de traficantes na ficção não é considerada apologia, enquanto a música de um artista da favela sim. Oruam também se manifestou, questionando se a prisão de Poze realmente contribui para o combate ao crime, e alerta que o foco das autoridades pode estar em criminalizar a arte dos artistas periféricos.
Em resposta às acusações, Poze se posicionou nas redes sociais, defendendo que suas letras não são apologia ao crime, mas sim relatos de uma realidade difícil vivida por muitos. Ele menciona que a criminalização de suas músicas representa uma perseguição e um ato de racismo institucional. O artista ressalta que situações semelhantes em obras de ficção não geram consequências legais para seus criadores, e conclui que está sendo alvo de preconceitos por ser um artista periférico.
As investigações em torno de Poze do Rodo e a definição de narcocultura pela polícia refletem um debate complexo sobre liberdade artística e a representação da realidade nas músicas dos MCs. As reações dos artistas evidenciam uma preocupação com o tratamento das expressões culturais nas comunidades marginalizadas, e levantam questões sobre a forma como a sociedade encara as vozes da favela em um contexto de crescente criminalização.