A crescente prática de compartilhar a localização entre jovens está revolucionando as dinâmicas sociais, transformando tecnologias aparentemente inofensivas em ferramentas de controle. A pergunta "Você pode compartilhar sua localização?" evoluiu para um novo entendimento: a localização agora é compartilhada permanentemente, 24 horas por dia, 7 dias por semana, principalmente entre a geração Z.
A popularidade de aplicativos como o "Buscar" da Apple e o "Find My" do Google tem facilitado a prática. Estes aplicativos não só permitem que os usuários vejam a localização de amigos em tempo real, como também disponibilizam um verdadeiro "mapa de amigos", onde é possível monitorar o movimento de pessoas próximas. Isso gera um novo nível de confiança – ou desconfiança – nas relações, especialmente entre amigos.
Um exemplo é Ainoa Q., estudante de 24 anos, que usa um mapa para coordenação de encontros com amigos. Apesar de ter começado como uma ferramenta para viagens, a prática perdurou por dois anos. "É muito útil para saber quando todos estão chegando. Agora, quando me entedio, gosto de ver onde todos estão e imaginar o que estão fazendo", revelou.
No entanto, o compartilhar localização traz à tona discussões sobre comportamento tóxico, especialmente em relacionamentos amorosos. A falta de reciprocidade no compartilhamento pode causar inseguranças. Carlos P., 24 anos, compartilha sua experiência dizendo que, em um relacionamento anterior, sua parceira tinha acesso à sua localização, mas ele não ao dela. "Isso me deixou mal, mesmo confiando nele. No futuro, vou evitar essa situação até ter mais confiança", disse.
Especialistas alertam para os riscos emocionais associados à essa prática. A psicóloga Natalia Franco afirma que muitos jovens enfrentam essa questão e que a tecnologia está alimentando um controle excessivo que pode prejudicar a confiança nas relações. "É importante questionar a necessidade do compartilhamento constante de localização e estabelecer limites", recomenda.
A cibersegurança também é uma preocupação. A especialista María Aperador destaca que aplicativos de localização podem ser alvos de ciberdelincuentes, dado que aumentam a superfície de ataque. "Esses dados podem ser usados para roubo de identidade ou extorsão", alerta. Ela sugere que os usuários escolham as plataformas com mais camadas de segurança e que sempre mantenham o controle sobre suas informações.
