Em um mundo onde algoritmos dominam e a diversidade de pensamento é cada vez mais desafiada, a literatura brasileira encontra um espaço de destaque na Eslováquia, que se posiciona como o país com mais traduções per capita de obras em português.
A escritora e colunista do GLOBO, Martha Batalha, reflete sobre a vital importância dos tradutores na promoção da cultura, sinalizando como a literatura pode revelar um Brasil multifacetado, muito além dos clichês de samba e futebol. O trabalho de autores renomados, cujas obras formam um mosaico cultural, desafia estereótipos e exibe uma identidade brasileira rica e complexa.
Neste contexto, Batalha compartilha sua experiência em uma feira literária na Eslováquia, onde foi convidada pela embaixada brasileira para um coquetel em sua homenagem. A escritora retrata o diálogo com sua família sobre a aparência que deveria apresentar, tocando em questões que vão além da literatura, incluindo suas experiências pessoais.
A Eslováquia, situada entre a Hungria, República Tcheca, Ucrânia e Polônia, é um lugar onde ler literatura brasileira se tornou uma peculiaridade cultural. O fato de Batalha ter seu romance lado a lado com obras de grandes autores como Rubem Fonseca e Machado de Assis ressalta a diversidade literária que o país abriga.
No entanto, Batalha destaca que a imagem do Brasil no exterior ainda é frequentemente limitada ao estereótipo de carnaval, futebol e violência. Essa percepção é ampliada, especialmente nos Estados Unidos, onde também são mencionados jiu-jítsu, Havaianas e outros elementos de cultura pop. A autora defende que a verdadeira representação do Brasil deve vir de sua rica produção cultural, abrangendo livros, filmes, artes plásticas e música.
Os livros traduzidos na Eslováquia oferecem uma visão de um Brasil multifacetado — misógino, racista e injusto, ao mesmo tempo poético, cômico, urbano e rural. Cada história nos reafirma como nação capaz de reflexão e entendimento coletivo. A tradução, por sua vez, representa apenas metade da voz da autora, sendo a outra parte creditada ao tradutor. Batalha menciona sua tradutora, Elena, cujo trabalho foi essencial para a recepção calorosa das obras brasileiras junto ao público eslovaco.
Num cenário global onde regimes autoritários podem prosperar em meio à falta de diversidade de pensamentos, a figura do tradutor se ergue como um herói. Tradutores constroem pontes entre culturas, promovendo empatia e mostrando a complexidade da condição humana — um aspecto vital neste contexto de globalização. Assim, a literatura não é apenas um retrato do Brasil, mas uma conexão genuína com o restante do mundo, unindo vozes e experiências diversas.