Moradores de Piracaia protestam contra asfaltamento, defendendo a preservação dos paralelepípedos históricos. Legenda da imagem. Reprodução: Globo
Moradores da cidade de Piracaia, localizada no interior de São Paulo, estão empolgados em protestar contra o asfaltamento das ruas, que atualmente são compostas por blocos de paralelepípedos. O descontentamento é claro: para a comunidade, esses blocos são parte integral da identidade e da história da cidade.
Recentemente, centenas de moradores saíram às ruas, armados com cartazes que diziam "Nossas pedras são predestinadas", "Asfalto cobrindo nossa história" e "Asfalto não". A mobilização expressa não apenas uma resistência cultural, mas também preocupações práticas, como o risco de enchentes, aumento de acidentes de trânsito e um impacto negativo no turismo local. A prefeitura confirmou que 17 trechos do centro histórico da cidade estão sendo asfaltados, mas garantiu que algumas vias, nas proximidades das igrejas Matriz e do Rosário, serão preservadas.
Em Piracaia, embora seja comum ver moradores clamando por asfaltamento, a situação é inversa, com cidadãos insistindo na manutenção dos paralelepípedos. O caso, que gerou tamanha indignação, já chegou aos tribunais, com ações judiciais movidas para interromper os serviços de asfaltamento.
Entre os motivos citados pelos moradores está a perda das características históricas da cidade. Um dos protestantes, Lilian Pires Staningher, mencionou os perigos associados à nova pavimentação: “Virou um grande tobogã. O problema é que com a velocidade dos automóveis podem ocorrer acidentes, já que aqui temos uma igreja e um posto de saúde”. Outro morador, o aposentado Benedito Lopes de Morais, expressou preocupação com possíveis inundações: “se água descer, a minha casa, se bobear, cobre até o telhado”.
Além das vozes de moradores, coletivos e associações ambientalistas também se manifestaram contrários à obra. Luciana Cury, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, alertou que a nova pavimentação poderá agravar os problemas de enchentes. “Os paralelepípedos, por serem blocos próximos, têm um mínimo de drenagem. Com o asfaltamento, as ladeiras ficarão completamente impermeabilizadas”, explicou.
Edmilson Armellei, advogado representando a associação de desenvolvimento turístico de Piracaia, criticou a falta de diálogo com a comunidade sobre o projeto. Ele enfatizou a importância histórica dos paralelepípedos, que estão presentes desde 1920, e a relevância do centro histórico para o turismo. “A obra começou de forma muito rápida, sem ouvir a população, que deveria ser incluída na discussão”, afirmou.
A empresa Cepavi foi contratada para realizar a pavimentação, orçada em R$ 962 mil, com um prazo estipulado de até 120 dias. A prefeitura de Piracaia defende a necessidade da obra, desmentindo riscos associados a enchentes, pelo que foi realizado um estudo de impacto ambiental. Reginaldo Grunwald, secretário de Obras, Meio Ambiente e Agricultura, ressaltou a importância da obra para melhorar a mobilidade na cidade e prometeu a construção de um reservatório subterrâneo para captar e controlar a água da chuva, alegando que a diferença na drenagem não será significativa.