Protestos de estudantes em universidades dos EUA contra a guerra em Gaza e a manipulação política do antissemitismo. Reprodução: Globo
Nos últimos dias, a comunidade judaica nos Estados Unidos se encontra sob alerta após dois atentados que resultaram em mortes e feridos. Estes atos violentos ocorrem em um contexto de crescente crítica acadêmica e de defensores dos direitos humanos em relação à manipulação do antissemitismo pela Casa Branca, que estaria utilizando o tema para avançar políticas antiliberais.
De acordo com Lewis Gordon, diretor da Escola de Filosofia da Universidade de Connecticut, a extrema direita está instrumentalizando o antissemitismo com um claro objetivo político. "É um insulto sermos usados desta maneira", disse Gordon, enfatizando que a liberdade de conhecimento está sendo ameaçada sob o pretexto de combater os ataques sofridos pela comunidade judaica.
Os atentados ocorridos nos últimos dias incluem a execução de dois funcionários da Embaixada de Israel que foram mortos a tiros em Washington. O autor, um cidadão americano, alegou fazer isso como uma forma de protesto contra a situação em Gaza, onde ocupações e ataques têm gerado um grande número de vítimas. O FBI também registrou um ataque em Colorado que causou preocupação em relação à escalada do antissemitismo, ligado à retórica de apoio aos direitos dos palestinos.
Ted Deutch, CEO do American Jewish Committee, destacou um incremento no ataque aos judeus nos EUA desde o início do conflito em Gaza, ressaltando a necessidade de separar a crítica a Israel da hostilidade contra judeus. Segundo o historiador Arie Dubnov, "antissemitismo não tem lado" e ele deve ser combatido independentemente dos acontecimentos em Gaza.
A direita americana, por meio de grupos como a Heritage Foundation, tem proposto uma série de medidas que incluem o desmantelamento de organizações consideradas anti-Israel e a demissão de professores em universidades. Donald Trump, ao anunciar um decreto que restringe a entrada de cidadãos de 19 países, enfatizou a necessidade de proteger os direitos civis de estudantes judeus nas instituições de ensino.
Organizações judaicas têm reações diversas a essas ações. Stefanie Fox, da Jewish Voice for Peace, denuncia o uso político do antissemitismo para fins eleitorais, enquanto outros acadêmicos afirmam que as universidades têm combatido a intolerância dentro dos campi. Pesquisa recente do Jewish Voters Resource Center revelou que 89% dos judeus nos EUA estão preocupados com o aumento do antissemitismo, mas 64% desaprovam as ações de Trump para combatê-lo.
A situação atual reflete tensões complexas que podem ter repercussões duradouras, tanto para as comunidades judaicas quanto para a sociedade americana como um todo. Enquanto os debates sobre direitos, liberdade de expressão e segurança continuam, a necessidade de um maior entendimento e diálogo se torna cada vez mais essencial.