Quadrilhas juninas de Pernambuco se preparam para as apresentações do São João 2025. Reprodução: Globo
As quadrilhas juninas de Pernambuco prometem surpresas em 2025, com temas que abrangem desde casamentos homoafetivos até protestos contra a fome. Os espetáculos, resultado de mais de seis meses de trabalho, apresentam uma mistura de dança, música e teatro que encanta o público durante o ciclo junino, iniciado com as prévias em maio.
A cada ano, as quadrilhas escolhem um tema diferente, desafiando-se a trazer à tona questões contemporâneas, adaptando clássicos de maneira inovadora. Segundo Vandré Cechinel, projetista da quadrilha Raio de Sol, vencedora do Festival de Quadrilhas Juninas da Globo em 2024, a diversidade cultural desempenha um papel crucial na definição dos temas. "A riqueza da nossa cultura nos permite explorar diversos aspectos. Estamos sempre pensando em um ou dois temas antecipadamente, onze em mente para o próximo ano", comenta.
A quadrilha Origem Nordestina aborda em seu espetáculo "Gonzaguiana" a história de Ana, uma mulher que sonha em tocar em uma banda de forró, desafiando os padrões de gênero. Em um enredo repleto de referências ao legado de Luiz Gonzaga e à luta feminista, Ana acaba se casando com Rosinha, uma abordagem considerada inédita no contexto das quadrilhas juninas. Anderson Andrade, idealizador do espetáculo, expressa suas preocupações: "Sabemos que o tema pode ser complicado para alguns, mas estamos recebendo uma boa recepção do público".
A quadrilha Lumiar traz para o São João de 2025 o tema "O casório do curió", uma apresentação com forte influência da xilogravura. Com um cenário e figurinos que remetem aos folhetos de cordel, o espetáculo promete muita diversão. "Nosso formato é muito característico, misturando texto musicalizado e dança teatralizada. O público se encanta com a autenticidade de uma quadrilha 'raiz'", explica Fábio Andrade, diretor do espetáculo.
O espetáculo da quadrilha Raio de Sol traz em 2025 "Ô de dentro, ô de fora - um reisado a São João", que complementa uma trilogia sobre o tema. A narrativa celebra o nascimento de São João, com a proposta de trazer uma mensagem positiva sobre justiça e verdade, conforme destaca Vandré Cechinel.
A quadrilha Dona Matuta aborda em seu tema "Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome" a trajetória de personalidades que lutaram contra a fome no Brasil. O enredo do espetáculo é ao mesmo tempo um protesto e uma celebração, abordando a desigualdade social de forma festiva. George Araújo, um dos fundadores da quadrilha, enfatiza a importância de tratar do assunto de maneira sensível, sem deixar de lado a festividade.
Por trás das encantadoras apresentações, existe um trabalho coletivo significativo. Os quadrilheiros, muitas vezes sem apoio financeiro, fazem uso de rifas e doações para realçar a qualidade dos espetáculos. "É um esforço coletivo, onde cada componente se dedica, muitas vezes de forma voluntária", finaliza Anderson Andrade. Assim, as quadrilhas juninas se reafirmam como parte essencial da cultura popular brasileira, oferecendo ao público não apenas entretenimento, mas também discussões relevantes sobre a sociedade contemporânea.