Usuários celebram a implementação da tarifa zero em Japeri, mas pedem melhorias na frequência dos ônibus. Reprodução: Globo
O Rio de Janeiro se destaca como a capital da tarifa zero no Brasil, sendo pioneiro na adoção de passagens gratuitas no transporte público. Desde a pandemia, 20 cidades fluminenses, como Japeri e Maricá, implementaram essa medida, que busca reverter a queda no uso do transporte coletivo e o aumento na demanda por aplicativos de mobilidade.
A experiência em Japeri, que possui ônibus gratuitos apelidados de "0800", reflete a receptividade popular à medida, apesar das reclamações sobre a frequência, que é de uma hora em cada linha. Usuários têm criado redes de contato para otimizar o tempo de espera.
Os especialistas alertam, no entanto, que as prefeituras devem ter cautela na implementação da tarifa zero para evitar comprometer recursos de áreas essenciais, como saúde e educação. Mauro dos Anjos, especialista em direito de trânsito, enfatiza a necessidade de transparência na alocação de recursos públicos, afirmando: "Não existe almoço grátis".
A popularidade do programa tem sido notável, já que cerca de 90% dos prefeitos que adotaram a tarifa zero foram reeleitos, segundo Roberto Andrés, professor da UFMG. Municípios como Maricá, que implantou o passe livre em 2014, continuam a ser referência, financiando a medida com os royalties de petróleo.
No entanto, o sistema também enfrenta desafios. Em Japeri, a adoção da tarifação zero foi apressada pela necessidade de substituir o operador de transporte. Assim, a prefeitura fez um investimento de R$ 3,5 milhões anuais para manter a gratuidade.
Cidades como Duque de Caxias e Magé têm seguido essa tendência, com a primeira implementando 18 linhas gratuitas e a segunda planejando expandir sua frota. O município de Itaboraí também se destacou, alcançando 22 linhas municipais com custos elevados, estimados em R$ 30 milhões este ano.
Dados da Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU) mostram que a implementação da tarifa zero tem sido mais abrangente no Rio de Janeiro do que em qualquer outro estado, com 21% das cidades adotando a medida. O professor Daniel Santini destaca que as ações devem focar não apenas na gratuidade, mas também na promoção de mobilidade sustentável. Ele defende que as prefeituras considerem melhorias nos serviços de transporte coletivo enquanto lidam com a crescente migração para alternativas de mobilidade individual, como veículos por aplicativo.
Finalmente, enquanto a tarifa zero se expande, é crucial que as prefeituras formulem estratégias que garantam mobilidade saudável e abordem os problemas estruturais enfrentados pelos cidadãos na locomoção.