No Dia dos Namorados, celebrado nesta quinta-feira (12), o amor assume novos contornos, especialmente entre os jovens da Geração Z, que nasceu entre 1995 e 2010. Para eles, a ideia de namoro se distorceu das concepções tradicionais, dando espaço a formatos como relacionamentos abertos e poliamor. As celebrações dessa data se tornaram um reflexo das diversas interpretações que o amor pode ter: alguns focam no outro, enquanto muitos priorizam o autoconhecimento e suas próprias necessidades.
O estudante universitário Ewerton Duarte, de 22 anos, compartilha como sua geração vê a relação amorosa. "Quando penso em dar atenção a outra pessoa, que muitas vezes não consigo dar a mim mesmo, opto por não namorar". Essa visão é corroborada pelo psiquiatra Thiago Blanco, que ressalta que, embora os jovens tenham desejo por relacionamentos, muitos carecem de ferramentas para lidar com os desafios que um convívio demanda. Para ele, o desenvolvimento de uma identidade forte inclui aprender a lidar com frustrações durante o crescimento, o que pode levar à escolha de permanecer solteiro como um ato de autocuidado.
Rangel de Oliveira, também com 22 anos, relata que suas prioridades giram em torno da estabilidade profissional e do sucesso pessoal. "Conquistar meus objetivos me permite pensar em compartilhar minha vida com alguém no futuro", diz. Embora reconheça que os aplicativos de relacionamento são uma opção, ele tampouco se sente atraído pela ideia de um compromisso duradouro neste momento. Este foco em individualidade e crescimento pessoal é comum entre seus pares.
Juan Espiñeira, produtor audiovisual de 27 anos, também se absteve de um relacionamento fixo, priorizando sua carreira e seu espaço pessoal. "Acostumei-me a minha própria companhia. Somente conseguiria integrar outra pessoa à minha vida se essa mudança fosse verdadeiramente benéfica", afirma. As opiniões convergem para uma análise de que a Geração Z mapeia as relações afetivas de forma diferente, particularmente influenciada por aplicativos e redes sociais, que podem generalizar e superficializar as conexões.
Julia de Oliveira, técnica de enfermagem de 27 anos, optou por uma pausa nos relacionamentos. Para ela, essa decisão não é apenas uma reação a desilusões amorosas, mas uma necessidade de autodescoberta. "Estou me priorizando e buscando entender quem sou fora de um relacionamento", diz. Julia também critica a rapidez característica das interações em ambientes virtuais, enfatizando que isso pode desumanizar as relações, tornando-as mais descartáveis do que significativas.
As escolhas da Geração Z ironicamente ecoam o conceito de "amores líquidos" do filósofo Zygmunt Bauman, que explora a fragilidade das conexões contemporâneas. Neste contexto, os vínculos amorosos são frequentemente marcados pela fluidez e pelo medo do compromisso, à medida que os valores tradicionais dão lugar a um individualismo acentuado. O resultado é uma sociedade atenta à busca de satisfação imediata, que, muitas vezes, troca a profundidade das relações por uma conexão efêmera.
Os impactos são palpáveis. Muitos jovens sentem-se isolados, mesmo em meio a redes sociais que prometem conexão. A ansiedade nos relacionamentos surge da incerteza sobre reciprocidade, enquanto o utilitarismo predomina, frequentemente à frente do afeto genuíno. No cenário atual, as definições de amor e vínculo continuam a evoluir, refletindo as transformações sociais e culturais que moldam a vida da Geração Z.