A atriz portuguesa Isabél Zuaa, que vem se destacando no cinema nacional, abre o jogo sobre sua bissexualidade e a jornada de autodescobrimento ao longo de sua carreira. Recentemente premiada em Cannes pelo filme "O agente secreto", Zuaa ressalta a forte ligação que desenvolveu com o Brasil, onde tem realizado projetos significativos tanto no teatro quanto no cinema.
Em 2009, ao chegar no Rio de Janeiro, Isabél fez uma lista de desejos para sua vida, incluindo fazer bons filmes e ter um lar aconchegante. Quinze anos depois, com um sorriso no rosto, ela compartilha que alcançou seus objetivos. "O que é nosso dá um jeito de nos encontrar. Só não podemos ficar quietinhos", reflete a atriz, que já perdeu a conta de quantos filmes fez, provavelmente entre trinta e quarenta.
Atualmente, Zuaa integra o elenco de "O agente secreto", o novo longa de Kleber Mendonça Filho, que recebeu prêmios em Cannes, incluindo o de melhor direção para o cineasta e melhor ator para Wagner Moura. O filme gerou expectativa antes mesmo de sua exibição, com a equipe chegando acompanhada de uma orquestra de frevo. "Foi tão grandioso, que dizia aos colegas: ‘Gente, eu me sinto tão brasileira!’", lembra Isabél. Sua atuação como Teresa Vitória, uma angolana fugindo de conflitos em seu país, promete impactar o público.
Para o tapete vermelho de Cannes, Isabél escolheu vestidos especiais e acabou formando laços com outras atrizes. Uma das suas escolhas, um vestido de Penha Maria, estilista reconhecida, destacou sua relação com a identidade e a cultura brasileira. "Zuaa significa dia em kimbundo; gosto de estar mais solar", comenta a atriz, ressaltando a importância de valorizar a moda nacional em um cenário de glamour internacional.
Embora tenha estabelecido sua casa em Lisboa, Isabél é uma figura constante no Brasil, onde frequentemente passa longas temporadas. Em breve, ela estará em cartaz no espetáculo "Irmãs", que explora a vivência feminina em meio a crises existenciais. "Me sinto mais jovem e em movimento. Estou resgatando a minha essência", expressa sobre seu desejo de trazer leveza e diversão ao drama.
A trajetória de Zuaa a torna uma aspirante a voz poderosa nas discussões sobre imigração e identidade. Nascida na Europa, como filha de mãe angolana e pai da Guiné-Bissau, ela traz à tona questões de aceitação cultural e racial. "Ninguém é imigrante no mundo. Estamos todos no mesmo planeta. Como posso ser excluída de algum lugar?", desafia, reforçando a necessidade de mais empatia e compreensão em tempos de crescente xenofobia.
Ainda em busca de sua própria identidade, Isabél reconhece ter aprendido a viver sem culpa, um sentimento que a acompanhou por muito tempo. Com um olhar novo, ela se define como bissexual e busca entender sua essência sem a necessidade dos relacionamentos. Além de sua evolução pessoal, a atriz deixa claro que não tolera comportamentos abusivos em sua carreira e se recusa a aceitar papéis que perpetuem estereótipos negativos sobre a escravidão.
Atualmente, Isabél prepara-se para lançar uma nova série sobre o período pré-Revolução dos Cravos, abordando a experiência das comunidades negras em Portugal. Juntamente com suas colegas, ela é a fundadora da Aurora Negra, companhia que busca contar suas histórias através do teatro, levando suas montagens a diferentes partes do mundo. "Uma mulher negra livre é um ato revolucionário", resume, ecoando a força e a determinação que caracterizam sua trajetória. "É ser e estar sem constrangimento", conclui, reafirmando sua luz e presença marcante no cenário artístico."}}