Nunca é tarde demais para desafiar o cérebro. Na verdade, nunca foi tão importante fazer isso.
Por Stephanie Rizk 15/06/2025 04h30 Atualizado agora
A neurociência tem desmontado o mito de que a capacidade de aprender diminui com a idade. Estudos demonstram que atividades cognitivas podem proteger o cérebro, aumentando a reserva cognitiva e melhorando funções cerebrais. Dança, por exemplo, se destaca como uma atividade benéfica que promove a saúde mental e deve ser incentivada em todas as idades.
A ideia de que o cérebro "endurece" com a idade e perde a capacidade de aprender é uma concepção ultrapassada. Aqueles que acreditam que já passaram daidade de aprender um novo idioma, tocar um instrumento musical ou se aventurar em um aplicativo novo devem saber: a ciência indica que nunca é tarde para iniciar este caminho de aprendizado.
Aprender algo novo, mesmo aos 60, 70 ou 80 anos, é uma das ferramentas mais eficazes para proteger o cérebro contra o declínio cognitivo e demências. Este efeito benéfico está relacionado ao conceito chamado reserva cognitiva, que funciona como um “colchão neural”, permitindo que o cérebro enfrente melhor os efeitos do envelhecimento e doenças neurodegenerativas. Importante destacar que essa reserva pode ser cultivada ao longo da vida.
Pesquisas longitudinais demonstram os benefícios do aprendizado contínuo. Um estudo com mais de 10 mil idosos australianos acompanhados por uma década indicou que atividades como escrever cartas, fazer cursos, usar computadores, jogar xadrez e pintar estão associadas a uma redução significativa no risco de demência, variando entre 9% e 11% dependendo da atividade em questão. Outro estudo, realizado na China com mais de 15 mil idosos, revelou que aqueles que realizavam atividades intelectuais regularmente apresentavam um risco 29% inferior de desenvolver demência nos anos seguintes.
A evidência não para por aí. Estudos de imagem cerebral mostram que essas atividades ajudam a manter e até aumentar o volume de áreas críticas do cérebro, como o hipocampo, essencial para a memória. A prática regular de tarefas cognitivas melhora ainda o desempenho em funções executivas, atenção e raciocínio, além de fortalecer a memória de curto prazo.
Entre todas as atividades, a dança ganhou um destaque especial, pois combina desafio cognitivo, atividade física, música e interação social. Dançar envolve memorização de sequências, coordenação motora e adaptação a ritmos, enquanto promove a movimentação corporal. Pesquisas indicam que idosos que praticam dança regularmente apresentam maior volume em áreas cerebrais relacionadas à cognição e ao desempenho em testes de memória, atenção e velocidade de processamento.
No entanto, aprender outras atividades também conta. Seja pintar, escrever crônicas, cozinhar pratos diferentes ou estudar filosofia, o importante é que a tarefa seja nova, desafiadora e estimulante. A repetição automática de atividades já conhecidas oferece pouco benefício. O segredo para esse engajamento está na novidade, complexidade e prazer.
Esse envolvimento constante e diversificado estimula a neuroplasticidade, habilidade do cérebro de formar novas conexões, mesmo nas idades mais avançadas. Quanto mais variados os estímulos, maior a ativação de diferentes circuitos cerebrais. Portanto, aprender não é apenas prazeroso, é um verdadeiro treino para o cérebro.
Essa evidência está redefinindo a percepção do envelhecimento. Em vez de associar essa fase à perda de habilidades, hoje vemos uma nova oportunidade de investimento pessoal. Investir no aprendizado não requer grandes investimentos financeiros; cursos gratuitos estão disponíveis online ou em centros comunitários, além de bibliotecas que continuam sendo fontes valiosas de conhecimento.
Assim, promover o aprendizado ao longo da vida se revela uma das intervenções mais eficazes e acessíveis para manter a mente ativa, funcional e saudável. Em um contexto de aumento da longevidade e crescimento dos casos de demência, isso se torna não apenas uma escolha individual, mas uma estratégia de saúde pública essencial. Portanto, se você já se perguntou se ainda vale a pena aprender algo novo, a resposta da ciência é clara: vale muito a pena. Nunca é tarde demais para desafiar o cérebro; na verdade, essa é uma necessidade mais urgente do que nunca.