Na Bienal do Livro, o escritor Leo Motta chamou atenção ao lançar seu terceiro livro, Há Vida Depois das Marquises - do Outro Lado da Rua, e apresentar um emocionante sarau poético chamado Marquises, que contou com a participação de nove homens que vivem em situação de rua. A apresentação, realizada no estande da Secretaria Municipal de Educação do Rio, ocorreu na última sexta-feira (13) e se destacou como um momento de inclusão e solidariedade em um dos maiores eventos literários do Brasil.
Leo Motta, que enfrentou seis meses de vida nas ruas do Rio de Janeiro, compartilhou sua experiência de superação e resiliência, destacando que o evento foi mais do que um lançamento literário. "Foi um momento único e de inclusão na maior feira literária do Brasil", ressaltou. A Bienal, que vai até o dia 22 de junho, celebra a nomeação do Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro, um título concedido pela Unesco, e traz uma programação diversificada com mais de 300 participantes.
O escritor relembrou a dura realidade que muitos enfrentam nas ruas, tendo passado por uma jornada marcada pela dependência química e pela luta pela sobrevivência. Ele afirmou: "A vida nas ruas é mais dura do que se imagina". Leo Motta, que criou o projeto A rua é casa de muitos e não deveria ser de ninguém, utiliza sua vivência para trabalhar em um projeto social que visa resgatar outras pessoas em situação similar à que ele vivenciou.
Em sua trajetória, Leo enfrenta o preconceito e a exclusão. "Eu fui humilhado por sentir fome", disse, compartilhando histórias de situações difíceis que passou enquanto estava nas ruas. Para ele, cada gesto de solidariedade pode fazer a diferença. Após receber ajuda e passar por um tratamento de reabilitação, ele hoje ocupa a função de assessor na Coordenadoria de População em Situação de Rua da Secretaria Municipal de Assistência Social, onde se dedica a tirar pessoas das ruas.
O escritor destacou que a pandemia de Covid-19 exacerbou a exclusão social e, durante esse período, ele conseguiu mobilizar a comunidade para distribuir refeições a pessoas em situação de rua. "Eu cheguei a ter cem quentinhas nas mãos e uma fila de 300 pessoas. Eu consegui distribuir quase todos os dias", relatou Leo, evidenciando a solidariedade que se manifestou em momentos de dificuldade. Contudo, ele também observou que a frequência das doações diminuiu em 2021, o que impactou o auxílio a essas pessoas.
Atualmente, Leo Motta, com 41 anos e pai de quatro filhos, continua sua missão de ajudar quem ainda se encontra na mesma situação que ele um dia viveu. Para ele, ainda existe uma luta constante para conscientizar sobre a necessidade de ajudar os menos favorecidos. "Há vida depois da marquise, da fome e da miséria", finalizou, reforçando sua esperança de um futuro melhor e a importância da solidariedade.