O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fez uma declaração alarmante ao ameaçar com um golpe de Estado caso um de seus aliados seja eleito, indulte os golpistas e o STF decida que a medida é inconstitucional. Ele afirmou que, diante dessa situação, a única saída seria a força, levantando questionamentos sobre democracia e autoritarismo no Brasil. A reação da mídia e dos analistas foi mista, com alguns tentando justificar as palavras do senador como uma mera análise do cenário político.
O jornal O Globo publicou um editorial que, apesar de cuidadoso, repudiou a afirmação de Bolsonaro. No entanto, o editorial não utilizou a palavra "golpe", referindo-se apenas aos eventos de 2022, enquanto destacava as ambiguidades nas declarações de Flávio: "Não ficou claro o que Flávio quis dizer com 'uso da força'". Ele próprio justificou sua posição, afirmando que a possibilidade de um indulto poderia levar a uma situação em que o STF mandasse todos os golpistas de volta à prisão.
A resposta do meio político e da mídia a essa grave declaração gerou perplexidade. Algumas vozes tentaram suavizar o impacto das afirmações do senador, enquanto outras se omitiram, refletindo uma prática comum de minimizar discursos que flertam com o autoritarismo. O foco da crítica parece estar mais na urgência de impedir a recandidatura de Lula do que na ameaça real que tal discurso representa.
Esses eventos evocam o livro "A Anatomia do Fascismo", de Robert Paxton, que explora como líderes conservadores enfrentaram a ascensão de regimes fascistas e a complexidade de suas decisões em relação à violência política. Paxton analisa a cumplicidade entre conservadores e fascistas, onde a esperança de usar o autoritarismo a seu favor levou a um contexto de normalização da violência política.
Nas páginas de Paxton, encontramos a afirmação de que muitos líderes conservadores chegaram ao ponto de optar por tolerar ou até colaborar com a violência fascista em favor de seus interesses. Isso levanta questionamentos sobre a atual atitude dos "conservadores" brasileiros em relação ao bolsonarismo e como suas escolhas podem resultar em desdobramentos perigosos para a democracia.
A crescente normalização do autoritarismo no debate político atual traz à tona um histórico de alinhamento entre setores da elite conservadora e movimentos autoritários. A importância de refletir sobre essas escolhas históricas e suas consequências é crucial para entender o presente político do Brasil e o papel do conservadorismo na atualidade.
É visível que a maioria dos conservadores no Brasil se encontra em uma posição onde não conseguem se dissociar do bolsonarismo, resultando em um comportamento silencioso diante de ameaças diretas à democracia. A situação atual revela como discursos extremistas podem ser incorporados ao debate político mainstream, desafiando a integridade das instituições democráticas. As observações de Paxton continuam relevantes, lembrando-nos que decisões tomadas em momentos críticos podem moldar o futuro político de uma nação.