A Bienal do Livro 2025 no Brasil foi marcada pela presença da escritora sul-africana Zukiswa Wanner, que trouxe à tona questões relevantes sobre a literatura africana contemporânea e protestos políticos. Em sua participação, Wanner enfatizou a importância do momento atual para a literatura ao refletir sobre sua experiência na Faixa de Gaza, onde decidiu devolver uma medalha cultural concedida pelo governo alemão em protesto ao apoio deste a Israel.
Wanner, que tem explorado os temas de desigualdade e racismo em suas obras, afirma que a literatura africana vive uma fase entusiasmante. Aos 48 anos, a escritora destacou que suas publicações mais recentes, incluindo "Madames" e "Matar, casar, amar", tratam da mobilidade social e dos desafios enfrentados pelas mulheres no pós-apartheid.
Durante sua estadia em São Paulo e no Rio de Janeiro, Wanner conversou com O GLOBO e compartilhou suas impressões sobre a cultura literária, refletindo sobre a escassez de estátuas que homenageiam escritores e o predomínio de figuras políticas em espaços públicos. "As cidades nunca têm estátuas de escritores, mas de militares, políticos..." comentou a autora, que a partir de um ponto de vista crítico, decidiu não mais se fotografar com bustos de escritores em países que colaboram com Israel.
Ela também discutiu a evolução da literatura africana no cenário global. "Quando 'Madames' foi lançado, o maior público leitor na África do Sul era composto por mulheres brancas de classe média", declarou. No entanto, Wanner observou uma mudança no perfil dos leitores, com o crescente interesse de mulheres negras na literatura africana.
Wanner destacou a conexão entre Brasil e África do Sul, sugerindo que os dois países apresentam paralelos interessantes nas questões de desigualdade social. A escritora repercutiu o impacto de sua obra mais recente, "Relato da vida palestina sob estado de apartheid", que visa conscientizar sobre a realidade dos palestinos e cuja totalidade dos lucros é destinada ao Palestine Children’s Relief Fund.
Em seu discurso na Bienal, Wanner lançou um olhar crítico sobre os efeitos da desigualdade e explorou a necessidade de diálogo honesto para se alcançar a reconciliação. "Não podemos afirmar que nos reconciliamos se não houver pedidos de desculpas e reparação", ponderou, comparando as realidades social e política da África do Sul e do Brasil.
Com suas abordagens provocativas e sua paixão pela literatura, Zukiswa Wanner reafirmou a relevância da produção literária africana atual e deixou uma mensagem de esperança e renovação no universo das letras. Sua trajetória e ativismo estabelecem um exemplo inspirador para escritores e leitores em todo o mundo, destacando a importância de se engajar com as realidades sociais por meio da arte.