O programa nuclear do Irã, que hoje representa um dos maiores desafios geopolíticos para os Estados Unidos e seus aliados, teve suas raízes na colaboração inesperada entre os dois países nas décadas de 1960 e 1970. O envio de um reator nuclear americano para o Irã no auge da Guerra Fria não apenas introduziu a tecnologia nuclear no país, mas também lançou as bases para uma crise internacional complexa que se desenrolaria ao longo de décadas.
Quando o presidente Donald Trump ordenou um ataque militar contra o programa nuclear iraniano, ele estava lidando com uma situação em parte criada pelos próprios EUA, que na época viam o Irã, sob o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi, como um aliado estratégico. O reator de pesquisa, enviado em 1967 como parte do programa "Átomos para a Paz" do presidente Dwight Eisenhower, foi um símbolo dessa aliança. O objetivo era ajudar os aliados a modernizar suas economias e garantir um bloco ocidental forte frente à crescente influência soviética.
Um Legado de Ignorância
No entanto, a nação que recebeu o reator era bastante diferente da República Islâmica que emergiria após a Revolução de 1979. Pahlavi estava empenhado em transformar o Irã em uma potência moderna, investindo bilhões em energia nuclear como uma questão de orgulho nacional e independência energética. Para ele, a energia nuclear era uma vitrine de progresso e modernização, essencial em um país rico em petróleo.
Embora os EUA e o Irã tenham assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear em 1968, as relações começaram a deteriorar quando Washington começou a duvidar das intenções de Pahlavi. O crescente desejo do Irã de manter tecnologia nuclear levou a desavenças, especialmente quando o xá passou a defender abertamente o direito do Irã de enriquecer urânio, provocando o temor de que o país buscasse desenvolver armas nucleares.
Consequências da Revolução de 1979
A Revolução Islâmica de 1979, que derrubou Pahlavi, inicialmente afastou o país do desenvolvimento nuclear que os Estados Unidos haviam ajudado a iniciar. A nova liderança, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, contrária à influência ocidental, negligenciou a tecnologia nuclear por um tempo. No entanto, após a destruição trazida pela guerra contra o Iraque, o regime começou a ver a tecnologia nuclear como um ativo estratégico novamente, virando-se para o Paquistão para adquirir centrifugadoras que permitiriam o enriquecimento de urânio.
A Evolução do Programa Nuclear
À medida que o Irã exportava seu programa nuclear, cresciam as tensões com o Ocidente. A descoberta de instalações nucleares secretas em 2002 levou a uma pressão internacional sem precedentes para que o país interrompesse suas atividades nucleares e se submetesse a inspeções rigorosas. O impasse atual, que inclui ameaças de ação militar por parte de Israel e dos EUA, é consequência dessa evolução.
Especialistas como Gary Samore, ex-assessor da Casa Branca, destacam que o conhecimento técnico que o Irã hoje possui não surgiu diretamente do apoio americano, mas é um resultado de uma combinação de fatores históricos e ações do passado. O reator de Teerã, que um dia foi um símbolo de um caminho pacífico para a energia, agora é visto sob a sombra da possível proliferação nuclear.
Perspectivas Futuras
O legado da ajuda dos EUA ao Irã durante a Guerra Fria deixou marcas profundas e contraditórias. Em um mundo onde a política nuclear continua a ser uma questão crítica, a história entre Washington e Teerã serve como um lembrete sombrio das complicações que envolvem alianças e os desafios da não proliferação. A crise em torno do programa nuclear iraniano reflete não apenas uma luta pelo poder, mas também as falhas de uma visão que não previu as consequências de suas próprias ações.