Revelações de Mauro Cid à Polícia Federal
O tenente-coronel Mauro Cid prestou depoimento à Polícia Federal, onde descreveu uma intervenção inesperada dos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre sua família. A pressão visava obstruir seu acordo de delação premiada e impedir que revelações comprometedores sobre o plano de golpe, que levaram a uma denúncia da Procuradoria-Geral da República, fossem trazidas à tona.
Abordagens Diretas e Manipulação Familiar
Cid relatou que advogados de Bolsonaro, incluindo Fábio Wajngarten e Paulo Cunha Bueno, tentaram persuadir sua esposa, sua mãe e até sua filha de 14 anos, buscando convencê-los a mudar a equipe de defesa e, assim, boicotar sua colaboração. "Eles tentaram convencer familiares do declarante para que trocasse de defesa técnica", declarou Cid.
Indícios de Obstrução da Justiça
As informações levantadas por Cid foram motivadas por uma petição apresentada por Eduardo Kuntz, que alegou ter se comunicado com o delator por meio de uma conta falsa no Instagram, insinuando uma violação dos termos da colaboração. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, identificou essas ações como tentativas claras de obstrução das investigações e ordenou a abertura de um inquérito.
Visitas à Prisão e Pressão Familiar
No decorrer de seu depoimento, Cid lembrou que, após sua primeira prisão em maio de 2023, recebeu visitas de Wajngarten e Kuntz. Após assinar o acordo de delação em setembro, os advogados intensificaram as pressões, tentando forçar a troca de seu advogado de defesa, Cezar Bitencourt. Cid revelou que analisando o telefone da filha, identificou que os advogados mantinham contato constante com ela, utilizando temas relacionados ao hipismo, um esporte que ela pratica, como uma forma de estabelecer uma conexão.
Manipulação por Parte dos Advogados
Cid destacou que Kuntz tentava utilizar a inocência de sua filha para obstruir as investigações. "Ele acredita que Kuntz usou esse contato para obter informações sobre o acordo de colaboração firmado e assim interferir nas apurações", disse. Wajngarten também teria abordado diretamente a esposa de Cid com o mesmo objetivo, tentando persuadi-la a mudar de advogados.
Declarações de Testemunhas e Próximos Passos
A defesa do tenente-coronel apresentou declarações que corroboram as afirmações de Cid. Gabriela, sua esposa, confirmou as tentativas de Wajngarten de convencê-la a trocar de advogado, mencionando que fez uma gravação da ligação onde isso era sugerido. A mãe de Cid também relatou contatos indesejados por parte de Kuntz e Bueno, que ofereceram seus serviços advocatícios durante um evento de hipismo.
Implicações e Reações da Advocacia
Após as acusações, Moraes ordenou que a Polícia Federal recolhesse depoimentos dos advogados envolvidos. A defesa de Cid solicitou que os resultados da investigação sejam compartilhados com o Conselho de Ética da OAB. O advogado de Bolsonaro, Celso Vilardi, não se pronunciou, enquanto Wajngarten se manifestou, dizendo que os fatos representam uma "criminalização da advocacia" e uma tentativa de ocultar a falta de voluntariedade do delator.