No último sábado, Pedro Sánchez, líder do PSOE, se dirigiu ao Comitê Federal do partido em um dos momentos mais críticos de seu governo desde que assumiu em 2018. O discurso foi marcado pela renúncia de Francisco Salazar, um colaborador próximo, que se afastou após ser acusado de assédio sexual. Com a situação do "caso Cerdán" pesando sobre ele, Sánchez buscou reconectar com seus apoiadores, enfatizando que ainda há esperança mesmo diante de crises severas.
“Me elegisteis para ser o capitão do barco. O capitão não se desinteressa quando vem mau tempo. Ele fica para enfrentar a tempestade, salvar o rumo e chegar ao porto”, declarou. Em meio a críticas por sua resposta ao caso Cerdán, que muitos consideram defensiva, ele se posicionou como um líder resiliente que não se esconde das dificuldades. "A decepção é grande", afirmou, "mas a responsabilidade de que a Espanha continue avançando é ainda maior". Este discurso se alinhou a uma mensagem anterior que transmitiu a dirigentes feministas: "Se eu pensasse que me afastando do cargo evitaria o assédio que estamos sofrendo, faria isso. Mas estou convencido de que isso pioraria".
Sánchez reconheceu: “Hemos cometido errores. Não somos perfeitos, somos seres humanos. O maior de todos foi confiar em quem não deveria. Meu compromisso contra a corrupção é total e absoluto”. Ao afirmar que confiou em José Luis Balos e Santos Cerdán, ele personalizou a culpa pela situação, mas enfatizou que nunca soube nada sobre as possíveis irregularidades deles, defendendo-se das acusações que pairam sobre seu governo. Ele se disse vítima de uma "traição dolorosa": "Não soube descobrir o que havia por trás de Balos e Cerdán".
Enfrentando a necessidade de abordar o problema do assédio, Sánchez pediu às vítimas que utilizem os canais do partido para relatar casos de agressão ou assédio sexual, afirmando que "as vamos a proteger". Embora não tenha mencionado diretamente o caso de Salazar, sua declaração ecoou a urgência da situação, revelando a pressão sob a qual o PSOE opera atualmente. A imagem do partido fica mais obscura quando os escândalos de assédio se tornam um tema importante a ser tratado.
Ao abordar o feminismo, ele enfatizou que para o PSOE, ser feminista vai além de comparecer a manifestações ou usar símbolos. "Hemos escuchado audios que revelan un machismo incompatible con nuestros valores", disse, ressaltando que a organização está tomando medidas rigorosas contra membros envolvidos em comportamentos inadequados. O compromisso com a luta contra a corrupção e o machismo foi destacado por meio da promessa de expulsão imediata de quaisquer integrantes que sejam comprovadamente culpados.
Sánchez também se defendeu de críticas quanto à agenda anticorrupção, afirmando que o partido já tomou diversas medidas significativas e que a limpeza das instituições é vital. Ele referiu-se a um passado recente que, segundo ele, é indigno, destacando o quão longe o PSOE achava que tinha chegado nesse aspecto em comparação a outras administrações.
O discurso incluiu ainda a afirmação de que até o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, elogiou o desempenho da economia espanhola, um fato que ele usou para argumentar que seu governo está fazendo uma gestão eficaz, apesar das dificuldades. Entretanto, essa referência a figuras controversas não foi bem recebida por todos os presentes.
Sánchez concluiu seu discurso projetando uma imagem otimista, insistindo que está adiante no combate à corrupção e nas lutas pelos direitos humanos, enquanto também rechaçou críticas sobre a paralisação de seu governo. Ele argumentou que, em tempos difíceis, a resistência é crucial e prometeu continuar avançando em nome de uma agenda mais progressista e social, desafiando a oposição a apresentar planos claros para o futuro.
Além disso, ao falar de política regional e de possíveis eleições futuras, ele ofereceu apoio e um reconhecimento especial a sua vice-presidente e ministra da Fazenda, María Jesús Montero, enfatizando sua importância para a futura liderança do partido nas eleições autônomas. Essas expressões foram importantes para reforçar a coesão interna do PSOE em tempos conturbados, enquanto esboça planos ambiciosos de continuidade no poder.