Uma investigação da New York Times Magazine revelou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prolongou a guerra em Gaza por razões políticas, visando manter-se no poder e evitar um processo judicial por corrupção. Apesar de planos para um cessar-fogo e negociações com o Hamas, Netanyahu escolheu continuar o conflito, beneficiando-se politicamente ao fortalecer sua posição frente a uma coalizão governamental frágil e de extrema-direita.
Seis meses após o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, preparava-se para encerrá-la, mas decidiu mudar o curso de suas decisões após realizar cálculos políticos que visavam manter sua relevância no governo do país. A investigação conduzida pela New York Times Magazine envolveu mais de 110 autoridades em Israel, nos Estados Unidos e no mundo árabe, além da análise de documentos, incluindo registros de reuniões do governo, negociações, planos de guerra e relatórios de Inteligência.
Em abril de 2024, Netanyahu planejava apresentar uma proposta que suspenderia a guerra em Gaza por pelo menos seis meses, criando espaço para negociações com o Hamas. Mais de 30 reféns capturados no início da guerra seriam libertados em semanas, e a destruição de Gaza, onde cerca de 2,3 milhões de pessoas lutavam para sobreviver sob bombardeios diários, seria interrompida. O encerramento do conflito aumentaria as chances de um acordo histórico de paz com a Arábia Saudita, um feito inédito desde a criação do Estado em 1948.
No entanto, o cessar-fogo trazia riscos para Netanyahu, que liderava uma coalizão dependente de ministros de extrema direita que queriam a ocupação de Gaza. Se o cessar-fogo ocorresse cedo demais, a coalizão poderia se desintegrar, levando a eleições antecipadas que Netanyahu corria o risco de perder. Com um processo por corrupção pendente desde 2020, ele se encontrava em uma posição vulnerável.
Desde o início da guerra, muitos israelenses culparam o Hamas pela continuidade do conflito, embora cresça o número de vozes que acreditam que um acordo poderia ter sido alcançado antes e que Netanyahu, com autoridade final sobre a estratégia militar, é visto como responsável por evitar tal acordo.
Todas as entrevistas realizadas pela NYT Magazine revelaram um consenso: a extensão e a ampliação da guerra beneficiaram politicamente Netanyahu. A investigação da revista apontou três conclusões cruciais: a estratégia de Netanyahu fortaleceu o Hamas, sua tentativa de enfraquecer o Judiciário israelense o deixou vulnerável e suas decisões durante a guerra foram moldadas por interesses políticos e pessoais.
Em julho de 2023, um relatório da Inteligência militar israelense alertava sobre uma crise interna, exacerbada pelos protestos contra a proposta de controle sobre o Judiciário impulsionada por Netanyahu. Considerando a vulnerabilidade de Israel, líderes da resistência discutiam se o país era alvo viável para um ataque. Netanyahu foi alertado por generais sobre a situação, mas ignorou os avisos após um dia tumultuado de protestos amplos.
O ataque do Hamas em 7 de outubro pegou Netanyahu de surpresa. Mesmo após ser informado, ele enfatizou que não havia alertas sobre uma invasão frontal e se queixou publicamente sobre a falta de notificações prévias. Em meio a pressão interna e externa para agir, o primeiro-ministro enfrentava um equilíbrio difícil entre atender demandas americanas e não alienar a extrema direita israelense.
Durante o conflito, Netanyahu tentou atender às exigências do presidente dos EUA, Joe Biden, oferecendo ajuda humanitária a Gaza, enquanto surrealmente mantinha a pressão militar. Todavia, após as libertações de reféns em troca de prisioneiros palestinos, ficou evidente que o premier desejava prolongar a guerra em sua busca por um objetivo militar mais amplo.
O premier também estava ciente de que, ao não planejar uma transição de poder após a guerra, sua sobrevivência política dependia da continuidade do conflito. A investigação de 20 meses de guerra revelou a deterioração da imagem de Israel no cenário internacional e implicações legais severas, enquanto Netanyahu mantinha sua posição de poder, mesmo em meio a fracassos.
E ao relacionar sua continuidade ao sonho dos extremistas israelenses, Netanyahu prolongou a guerra, colhendo os frutos políticos de sua decisão, mesmo que a situação no terreno e a opinião pública se dissociassem de sua lógica. A NYT Magazine destacou que, por sua manipulação da informação e cálculo político, Netanyahu não apenas sobreviveu, mas também redefiniu os contornos da política israelense em tempos de crise.
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