Começo da Escavação em Tuam
Autoridades irlandesas deram início às escavações na cidade de Tuam, no oeste da Irlanda, onde há a suspeita de que quase 800 bebês estejam enterrados em uma vala comum. Esta descoberta, feita em 2014, ganhou mais atenção em virtude de um tanque de esgoto que foi utilizado para ocultar os corpos de crianças que morreram em um orfanato administrado por freiras entre os anos de 1925 a 1961. A operação, que deve levá-los a um período de dois anos, tem o intuito de confirmar a tragédia e foi catalisada por uma pesquisa da historiadora amadora Catherine Corless, que descobriu a falta de registros de sepultamento das vítimas.
Histórico Sombrio do Orfanato St. Mary’s
No antigo orfanato St. Mary’s, situado ao lado de um parquinho infantil, milhares de mulheres e crianças foram acolhidas ao longo de 35 anos, muitas dessas mulheres foram enviadas à força após engravidarem fora do casamento. Separadas de seus filhos logo após o nascimento, as crianças viviam em condições desumanas. Registros oficiais apontam que 796 bebês e crianças faleceram nas dependências da instituição. O ex-primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, descreveu o local como uma "câmara dos horrores". Até o momento, não há lápides, registros de sepultamento ou memoriais que indiquem onde essas vítimas estão sepultadas.
Investigação que Revelou o Passado
A história de Tuam ganhou notoriedade em 2014, devido aos esforços de Catherine Corless, que desde 2005 realizava uma pesquisa sobre sua própria família e acabou por descobrir o que havia ocorrido no orfanato. Segundo Catherine, um coveiro a guiou até o local onde a instituição se localizava, revelando a existência de ossos humanos descobertos por crianças nas décadas de 1970. Inicialmente, acreditava-se que esses restos pertenciam a vítimas da Grande Fome do século XIX. Porém, a pesquisadora convenceu-se de que os corpos ali não eram dos mortos da fome, sendo que os mapas antigos reforçavam suas suspeitas sobre o lugar ser um cemitério.
Os Impactos na Comunidade
Após suas revelações em 2014, a historiadora enfrentou ceticismo e hostilidade por parte dos habitantes locais. Muitas pessoas duvidaram da capacidade de uma "historiadora amadora" realizar tal descoberta. Em contrapartida, testemunhos como o de Mary Moriarty, que morou nas proximidades na década de 1970, corroboraram suas alegações. Mary recordou que viu ossos humanos e "pequenos embrulhos” envolvidos em panos podres empilhados em uma cova, revelando a aterradora realidade das vidas perdidas ali. Sua experiência em um hospital enquanto seu filho mais novo era tratado trouxe à luz a conexão direta com o que ocorria no orfanato.
Desdobramentos e Exigências de Justiça
A investigação oficial iniciada em 2017 confirmou as descobertas de Corless, com testes de solo que mostraram a presença significativa de restos humanos de crianças com idades que variavam desde 35 semanas de gestação até dois ou três anos. Isso comprovou que elas não eram vítimas da fome como havia sido inicialmente especulado. Desde então, sobreviventes e familiares das vítimas têm exigido uma investigação abrangente sobre os eventos que levaram à morte das crianças. Anna Corrigan, líder do movimento por justiça, compartilha a dor de perder irmãos no orfanato e busca um reconhecimento público dos nomes e tragédias que ocorreram naquele local.
A Liderança da Escavação
A escavação atual é liderada por Daniel MacSweeney, especialista na localização de corpos desaparecidos em zonas de conflito, como em territórios de guerra. Ele enfatiza a complexidade do trabalho devido ao pequeno tamanho dos restos que devem ser tratados com extremo cuidado. Cada osso precisa ser recuperado com atenção para possibilitar sua identificação futura. O trabalho em Tuam simboliza não apenas a busca por respostas, mas um aumento na conscientização sobre os abusos sistêmicos enfrentados por mulheres e crianças sob gestão religiosa na Irlanda.