Desconectar o Brasil do GPS é inviável
A recente especulação sobre a possibilidade de os Estados Unidos desconectarem o Brasil dos sistemas GPS e Swift tem gerado bastante discussão. No entanto, essa ideia se mostrou tecnicamente inviável. O sistema de GPS — na verdade parte do Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS) — abrange uma ampla rede de satélites, que não se restringe aos americanos. Outros sistemas, como o Galileo (União Europeia), Glonass (Rússia) e BeiDou (China) também compõem essa infraestrutura global. Se os EUA decidissem desconectar o GPS do Brasil, o impacto não se restringiria apenas ao país, mas afetaria também outras nações, especialmente na aviação e navegação.
A impossibilidade da desconexão
O Brasil, um país de dimensões continentais, possui uma complexidade geográfica que tornaria a desconexão dos sistemas de satélite extremamente difícil. Os sinais de GPS são vitais para a operação de aeronaves e embarcações que transitam pelo território brasileiro. Assim, uma ação desse tipo resultaria em prejuízos significativos não apenas para o Brasil, mas também para os EUA e outros países que poderiam ser afetados.
Swift: um sistema mais complexo
Outra especulação trata da exclusão do Brasil do sistema Swift, uma joint venture com a União Europeia para transferências financeiras internacionais. Essa informação foi levantada por Eduardo Bolsonaro, deputado federal. Contudo, ao contrário do que ele sugere, desconectar o Brasil do Swift é uma questão complexa, que exigiria a concordância não apenas dos EUA, mas também da União Europeia, que nada indica estar disposta a isso.
Além disso, existe uma alternativa ao Swift, que é o sistema Cips chinês, embora sua implementação seja desafiadora e demorada, como observado na experiência da Rússia após ser excluída do sistema Swift durante as sanções relacionadas à invasão da Ucrânia.
Implicações políticas das sanções
Os rumores de sanções ao Brasil servem como um alerta sobre a fragilidade das relações internacionais. O Swift, embora associado aos EUA, é uma operação conjunta que representa interesses europeus. Assim, qualquer decisão de desconexão não seria meramente unilateral, mas demandaria um consenso em larga escala, refletindo uma estratégia cautelosa no cenário global.
Confiança internacional e infraestrutura substitutiva
Os sistemas como GPS e Swift não operam apenas por questões técnicas, mas estão imbuídos de um profundo nível de confiança internacional. O uso da infraestrutura mundial por potências, como os EUA, para punir países pode resultar na criação de sistemas paralelos, uma resposta dos países que se sentem ameaçados. Tal movimento poderia propiciar a ascensão de alternativas não-americanas, o que representa uma perspectiva preocupante para a hegemonia americana.
Cenários futuros diante da desinformação
Embora a administração de Donald Trump tenha sua cota de impulsividade, a preocupação primordial continua sendo a China. As sanções ao Brasil podem ser levantadas, mas seriam um tiro no pé para os EUA, pois favoreceriam a expansão da influência chinesa no Brasil e na América Latina. Portanto, é essencial que as narrativas em torno dessas questões sejam discutidas de forma crítica, sem cair em boatos infundados que não levam em conta a complexidade política e técnica envolvida.