A recente tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre as vendas brasileiras de carne pode intensificar a já existente tendência de alta nos preços do produto no Brasil, apontam analistas. A medida, que entra em vigor no dia 6 de agosto, deverá influenciar os consumidores brasileiros, mesmo que indiretamente.
Embora a sobretaxa de 50% seja paga por empresas norte-americanas na aquisição de produtos brasileiros, a possível queda nas vendas pode afetar toda a cadeia produtiva. Caso os compradores americanos optem por não arcar com preços mais elevados, a redução na demanda pode levar a uma diminuição nos abates no Brasil. Portanto, a carne não deve se tornar mais barata conforme a entrada do tarifaço.
Especialistas da área, como Wagner Yanaguizawa do Rabobank, mencionam que os preços da carne podem inicialmente diminuir com a menor demanda dos EUA, mas a expectativa é que eles aumentem em seguida devido à redução no número de animais disponíveis para o abate. A queda nos abates, já aguardada anteriormente, deve ser intensificada sob o novo cenário imposto pelo tarifaço.
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações, ficando atrás apenas da China. A parte dianteira do boi, utilizada na produção de hambúrgueres, é a mais requerida pelos americanos. Entretanto, as partes restantes são direcionadas a outros mercados ou permanecem no Brasil.
Yanaguizawa sugere que o Brasil poderia redirecionar suas exportações para mercados em crescimento, como o Egito, especialmente considerando que concorrentes como EUA e Austrália também enfrentam problemas de produção devido a questões sanitárias. No entanto, a redução global da oferta de carne de 2% prevista pode levar a um aumento nos preços a longo prazo.
Recentemente, o preço do boi gordo, que é o animal já preparado para o abate, caiu 7,21% em um mês, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Essa tendência sugere que os preços podem ser um fator volátil no futuro próximo. Com o tarifaço imposto, o Brasil pode enfrentar um risco significativo de perda de até US$ 1 bilhão nas vendas de carne bovina para os EUA em 2025.
Além da carne, outros produtos também sofrerão impacto, como o suco de laranja, que escapou do tarifaço de 50% e ficou sujeito a uma taxa de 10%. A situação levantada pelo tarifaço de Donald Trump necessitará de acompanhamento contínuo para entender suas repercussões nas exportações brasileiras de carne bovina.