A ascensão da aristocracia negra durante a Era Dourada trouxe luz à educação e à liberdade para muitos afro-americanos. O período, que se seguiu à Proclamação de Emancipação em 1863, viu o surgimento de uma elite negra em Nova York, composta por indivíduos que prosperaram economicamente, muitas vezes nas áreas de varejo e farmácia.
No contexto histórico, um correspondente anônimo, conhecido apenas pelo pseudônimo "Ethiop", observou em uma carta publicada em 1852: "Uma combinação de negros empreendedores está começando a aparecer. Eles começam a ocupar seus lugares em diversas ocupações, formando uma classe de negócios ativa e eficiente. Eu a chamo de ARISTOCRACIA".
A série da HBO, "The Gilded Age", que terminou sua terceira temporada em 10 de agosto, ilustra a dinâmica entre o novo e o velho dinheiro em Manhattan e resgata histórias de ricos negros anteriormente negligenciados pela narrativa histórica. A terceira temporada continua a retratar a vida de afro-americanos prósperos durante o final do século XIX.
Dentre os personagens centrais estão Peggy Scott, uma autora e jornalista interpretada por Denée Benton. Peggy, filha de um homem que foi escravizado, vive em um mundo onde a igualdade social estava em ascensão. Sua história é inspirada em figuras históricas, como Julia C. Collins, a primeira escritora negra a publicar um romance.
Historiadores como Carla Peterson, autora de "Black Gotham: A Family History of African Americans in Nineteenth-Century New York City", afirmam que "a elite negra da Era Dourada mostrou que também temos gosto e educação. Somos cidadãos como os outros".
Após a Proclamação de Emancipação, muitos negros conseguiram acumular riqueza, um feito anteriormente impossível. A industrialização e o crescimento das ferrovias abriram novas oportunidades de negócios, e muitos destes novos ricos pertenciam ao que se chamou de "aristocracia do comércio".
Peterson ressalta: "Após a Guerra Civil, houve uma explosão de indústria moderna que gerou riqueza, permitindo a ascensão de famílias negras prósperas". Thomas Downing, por exemplo, conhecido como o Rei das Ostras de Nova York, tornou-se um dos homens mais ricos da cidade, sendo um exemplo da comercialização de produtos que antes eram considerados alimentos comuns.
Outros nomes notáveis incluem Pierre Toussaint, um ex-escravo de Haiti que se tornou um famoso cabeleireiro em Nova York, utilizando seus lucros para apoiar a educação e o emprego de órfãos e imigrantes. A mulher de negócios Mary Ellen Pleasant também exemplifica essa ascensão, ganhando riqueza significativa após a Corrida do Ouro na Califórnia.
O acesso à educação funcionou como um importante pilar na mobilidade social dos negros em Nova York. A crença no valor da educação sempre permeou as comunidades negras, como indicado por Peterson, que afirma: "A ambição começa com a educação". O fundador do primeiro HBCU, Richard Humphreys, fundou o African Institute, o que demonstra o compromisso com a educação.
Embora a riqueza tenha se concentrado em poucas mãos, o Gilded Age também se caracterizou por uma desigualdade extrema. "A escravidão por vínculo foi extinta, mas a escravidão industrial permanece", refletiu o economista Henry George em 1886. Mesmo os negros de maior sucesso enfrentaram barreiras significativas, devido a um sistema que os via como "um massa homogênea e degradada".
A historiadora Willard B. Gatewood observou que mesmo os negros excepcionais eram considerados inferiores aos brancos. No entanto, tales desigualdades não impediram o surgimento de alianças interraciais, como as formadas pela organização de caridade King's Daughters, onde mulheres brancas e negras trabalhavam juntas em prol do bem comum.
A conexão entre esses eventos da Era Dourada e a crescente ativismo político e social do século XX é inegável, com a formação da NAACP em 1909 e o início do Renascimento do Harlem, validando a relevância e a influência da elite negra do século XIX, conforme destaca Peterson."