A trajetória da colunista e a importância da ancestralidade
No dia em que o GLOBO celebra seu centenário, a colunista relembra sua jornada no jornalismo, que teve início em 2014. Com um olhar voltado para suas raízes familiares, em especial a figura de seu avô ferreiro, a autora aborda a relevância da ancestralidade em sua vida e obra. Ela fará parte de um evento especial, que contará com a presença de Conceição Evaristo e Leci Brandão, destacando as vivências afro-brasileiras.
O começo de uma nova era no GLOBO
Minha trajetória no GLOBO iniciou-se há quase duas décadas e, em abril de 2014, escrevi meu primeiro artigo como colunista, intitulado "Tempos de bigorna". O texto refletia as mudanças que se avizinhavam, inspirando-me em um desenho animado da infância, que retratava as desventuras do Coiote e do Papa-Léguas. A bigorna se tornou uma importante metáfora para mim, simbolizando a adaptação às transformações no mundo e no meu novo papel como colunista.
Explorando raízes em Cachoeira, Bahia
Alguns anos após iniciar minha nova função, viajei para Cachoeira, na Bahia, em busca da história de minha linhagem materna. A cidade, marcada pela luta contra as forças coloniais, guarda memórias de meu avô, Astrogildo, um ferreiro que deixou um legado importante. Durante a visita, pude ver e tocar as ferramentas que pertenciam a ele, incluindo a famosa bigorna, utilizada na forja de instrumentos sagrados e na restauração de elementos históricos da cidade.
Um encontro marcante e revelador
Durante essa viagem, encontrei a ialorixá Mãe Beata de Iemanjá, que também era da região. Ao mencionar meu avô, ela me revelou que ele era primo-irmão de sua mãe. Esse contato fortaleceu ainda mais meu entendimento da importância da ancestralidade, ressaltando a conexão entre as gerações. Aprendi que "a ancestralidade é uma coisa muito forte", um ensinamento que carrego comigo.
Um evento que reúne grandes nomes
A celebração dos 100 anos do GLOBO será também um momento de reflexão sobre a literatura e a cultura afro-brasileira. No evento intitulado "As coisas que mamãe me ensinou", mediado por mim, Conceição Evaristo e Leci Brandão discutirão temas como literatura, samba e afromatriarcado. Ambas são figuras emblemáticas que trazem experiências e ensinamentos valiosos.
Reflexões sobre o tempo e a mudança
Em um mundo que continua em transformação, volto a lembrar de Vinícius de Moraes, que escreveu sobre como "a vida vem em ondas, como o mar". Neste sábado, ao celebrar meu aniversário e a continuidade de minha jornada, sinto a força de Iemanjá e de todas as mulheres da minha linhagem, que me guiam em cada passo. Ao completar 56 anos, abraço minha ancestralidade com gratidão, ciente de que ela é um pilar em minha vida e na minha narrativa como colunista.