A Estrategia Protecionista dos EUA
As tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a administração de Donald Trump têm como alvo o Brasil, inserindo o país em um complicado jogo geopolítico global. A iniciativa faz parte de uma agenda protecionista e de reindustrialização dos EUA, que busca influenciar a balança de poder mundial, especialmente no contexto do fortalecimento de blocos como o Brics.
Motivações por Trás das Tarifas
O governo Trump apresenta um duplo objetivo com a aplicação dessas tarifas. Internamente, a estratégia busca reindustrializar os Estados Unidos e reverter o declínio de sua hegemonia, um movimento ecoado pela proposta "Make America Great Again". É importante destacar que o protecionismo já foi um caminho bem-sucedido para que os EUA se tornassem a potência hegemônica no século XX, como demonstrado pela figura de Alexander Hamilton.
Impactos nas Relações Internacionais
Externamente, as tarifas visam alterar o equilíbrio de forças no sistema internacional. A intenção aparenta ser a de subjugar outros países, como evidenciado pelos acordos com a União Europeia e sanções direcionadas à Índia. Mesmo que a narrativa do “tarifaço” de Trump tenha sido mitigada em alguns produtos, o Brasil se vê especialmente afetado em áreas críticas, como os setores agrícola e industrial.
Consequências para o Brasil
A justificativa política para essas sanções parece ser mais um pretexto, enquanto o verdadeiro objetivo é estratégico: conter o papel do Brasil na formação de uma ordem mundial multipolar. O Brasil, sob a presidência de Trump, foi alvo de críticas especialmente relacionadas ao Brics, enfatizando a preocupação dos EUA com a possibilidade do dólar perder sua hegemonia como moeda global.
A Busca por Autonomia
Num cenário onde o poder global é mais distribuído, o Brasil consegue uma posição de manobra mais favorável. O país, que enfrenta vulnerabilidades crônicas, tem a necessidade urgente de restabelecer sua autonomia e unificar os cidadãos ao redor de um projeto nacional, sem submeter-se a interesses alheios.
Desafios Estruturais e Fiscais
Além das pressões geopolíticas, o Brasil também lida com problemas internos graves. A crise fiscal, resultante de uma economia rentista, compromete entre 8% e 9% do PIB em juros, dificultando a superação de questões estruturais críticas, incluindo a vulnerabilidade militar do país. Em um mundo repleto de desafios, é imperativo que o Brasil não abdique da busca por um sistema mundial mais equitativo e se mantenha firme diante das agressões externas.
Profundidade do Brics: A manutenção da importância do Brics é crucial, pois o bloco representa uma alternativa ao modelo hegemonico associado aos Estados Unidos. A busca por um mundo de múltiplos polos de poder é o caminho que deve ser seguido, promovendo a autonomia e o potencial do Brasil na arena internacional.
*Ronaldo Carmona é professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra.