Uma tragédia marcou a vida do morador de rua Jeferson de Souza, de 24 anos, que foi fatalmente atingido por tiros de fuzil disparados por policiais militares durante uma abordagem em São Paulo. O episódio ocorreu no dia 13 de junho, no Viaduto 25 de Março, e foi registrado por câmeras corporais dos militares. As imagens, obtidas com exclusividade pela TV Globo, contradizem a versão apresentada pelos policiais, que alegaram que Jeferson teria reagido à abordagem.
Natural de Craíbas, Alagoas, Jeferson mudou-se para São Paulo em 2019 buscando melhores oportunidades. Inicialmente, trabalhou em uma pizzaria, mas acabou se envolvendo com drogas e vivendo nas ruas. Sua irmã, Micaeli Soares, expressou sua dor durante uma entrevista ao SP2. Ela relatou: "Muitas vezes ele falou pra mim que queria voltar [para Alagoas], que queria sair dessa vida. Ele era um menino tranquilo. É uma dor muito forte que eu não desejo pra ninguém. Já me perguntei mil vezes: 'o que foi que ele fez para chegar ao ponto de tirarem a vida dele?'"
O crime, que revoltou a sociedade, trouxe à tona questões sobre a atuação da polícia e o tratamento dado aos moradores em situação de rua. Segundo as imagens, Jeferson foi abordado enquanto estava em cima de uma árvore e foi levado para debaixo do viaduto. Os policiais tiraram fotos dele e enviaram para contatos enquanto ele estava em estado de vulnerabilidade, com as mãos para trás, chorando e sem resistir. Uma hora após a abordagem, Danilo Gehring, um dos policiais, desativou a câmera corporal e, em seguida, Jeferson foi encontrado morto com disparos em diversas partes do corpo.
O tenente Alan Wallace dos Santos Moreira e o soldado Danilo Gehring estão atualmente presos, respondendo por homicídio doloso, falsidade ideológica e obstrução da Justiça. A defesa do tenente alegou que os policiais agiram em legítima defesa, uma justificativa que será apresentada ao tribunal. Entretanto, o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, classificou a conduta dos policiais como "inaceitável" e "vergonhosa", ressaltando que as imagens contrariam a versão da polícia. "O vídeo contraria completamente a versão apresentada pelos policiais. Ele estava tranquilo, conversando com os policiais e, do nada, o tenente efetua três disparos de fuzil contra essa pessoa", afirmou Massera.
O caso de Jeferson destaca a necessidade urgente de discussão sobre violência policial e a proteção dos direitos humanos, especialmente em relação a pessoas vulneráveis. A abordagem brutal e seu trágico desfecho levantam questionamentos sobre o uso excessivo da força e o tratamento a moradores de rua na cidade. A sociedade se mobiliza, clamando por justiça e discussões profundas sobre como evitar que tragédias como esta se repitam no futuro.
O sofrimento da família e as memórias de um jovem que sonhava ser jogador de futebol se entrelaçam em um contexto de dor e indignação. A busca por justiça continua, enquanto o clamor por mudanças nas práticas policiais e por uma abordagem mais humana e respeitosa aos cidadãos vulneráveis se torna cada vez mais evidente.