O debate sobre o racismo estrutural no Brasil revela uma realidade complexa que vai além da simples identificação de racistas. O artigo assinado por Paulo Cruz destaca a importância de se vencer a cultura de subalternização da população negra para que se possa reconhecer quem realmente perpetua práticas racistas.
Na perspectiva de Cruz, é crucial refletir sobre o que significa o racismo estrutural, uma teoria que, segundo o filósofo e professor Silvio Almeida, identifica o racismo como resultado das relações sociais normais do país. Ele afirma que o racismo está profundamente enraizado nas estruturas políticas, econômicas e sociais, não se restringindo apenas a ações individuais de discriminação. Essa abordagem, no entanto, demanda uma análise crítica mais profunda.
Durante uma conversa com o professor Alysson Mascaro, Almeida enfatizou que a solução para o combate ao racismo estrutural passa por uma revolução cultural. Essa afirmação não apenas aponta para a necessidade de transformação, mas também sugere que a aceitação de tais ideias na sociedade tem sido facilitada pelo suporte da imprensa e de formadores de opinião que, muitas vezes, adotam essas teorias sem o devido questionamento crítico.
Cruz observa que, embora a proposta de Almeida inclua ações afirmativas, estas por si só não garantem mudanças nas estruturas sociais, que são complexas e multifatoriais. Ele argumenta que a subalternização não é meramente uma consequência da discriminação racial, mas está relacionada a uma série de fatores sociais e econômicos que afetam tanto negros quanto brancos em condições de pobreza.
Além disso, o autor chama a atenção para o fato de que a sociedade não deve ver cada vulnerabilidade ou suspeita como um ato de racismo. O preconceito está presente em contextos mais amplos que envolvem a desigualdade socioeconômica, onde tanto negros quanto brancos podem ser alvo de desconfiança e estigmatização dependendo de sua situação econômica.
Com mais de 130 anos desde a Abolição, a falta de políticas que garantam a ascensão social de populações pobres, independentemente da cor da pele, revela a persistência de uma estrutura desigual. Cruz clama por mudança na educação, propondo uma reestruturação do imaginário social em relação à população negra, enfatizando a necessidade de vê-los como agentes de civilização, e não como herdeiros de um passado de escravidão.
É evidente que o caminho para reconhecer e erradicar o racismo verdadeiro no Brasil passa pela reflexão crítica e pela transformação cultural, além de um compromisso genuíno com um desenvolvimento social inclusivo.