A crescente preocupação com as ondas de calor na França transformou o ar-condicionado em um tema central de disputa política entre direita e esquerda. Enquanto a líder da extrema direita, Marine Le Pen, defende a expansão do uso dos aparelhos, a oposição critica os altos custos de energia e os impactos ambientais dessa tecnologia.
Na verdade, a polarização do debate sobre ar-condicionado reflete inquietações maiores sobre mudanças climáticas e adaptações tecnológicas. Durante uma onda de calor que afetou a Europa em julho, o questionamento sobre a necessidade do ar-condicionado emergiu como um verdadeiro teste político. Simultaneamente, a França lidou com incêndios florestais e uma temperatura que podia alcançar os 39ºC.
Le Pen anunciou a implementação de um “grande plano de instalação de equipamentos de ar-condicionado” se seu partido assumir o poder. Em resposta, a líder do Partido Verde, Marine Tondelier, ironizou a proposta, enfatizando outras soluções, como o “enverdecimento” das cidades e a melhoria na eficiência energética dos edifícios.
No espectro da imprensa, o diário conservador Le Figaro apoiou o uso do ar-condicionado, argumentando que ele é essencial para a produtividade e saúde pública, enquanto o jornal progressista Libération o descreveu como uma "aberração" ambiental, criticando seu impacto ao liberar ar quente nas ruas e consumir energia valiosa. Essa polarização do tema deixa claro que as repercussões políticas vão além da mera funcionalidade do ar-condicionado.
Embora o debate tenha esmorecido com a diminuição das temperaturas, a tendência de verões cada vez mais intensos na Europa sugere que as questões relacionadas ao ar-condicionado permanecerão relevantes. Há 40 anos, discutir essa tecnologia poderia parecer estranho para a Europa, onde as altas temperaturas eram raras e aquecer as casas predominava como prioridade.
Uma análise do Copernicus, programa da União Europeia, mostra que o continente enfrenta períodos mais longos de calor intenso em comparação com quatro décadas atrás. Essa mudança de perspectiva fez com que o ar-condicionado, antes visto como um luxo norte-americano, se tornasse vital para suportar os dias escaldantes.
Apesar do aumento das temperaturas, cerca de metade das casas na Itália e cerca de 40% na Espanha possuem ar-condicionado, enquanto na França essa proporção é ainda menor, alcançando apenas 20% a 25%, conforme dados da Agência Francesa de Transição Ecológica. Em 2023, a grande maioria da energia consumida por residências na UE ainda se concentrava no aquecimento de casas, com menos de 1% destinado ao resfriamento.