O conceito de "rodoviarismo" no Brasil tem sido amplamente criticado por especialistas em urbanismo, como Sérgio Magalhães. O arquiteto destaca que a construção da ponte entre Salvador e a Ilha de Itaparica simboliza um planejamento urbano ultrapassado e prejudicial ao desenvolvimento das cidades brasileiras.
Segundo Magalhães, o governo federal e o governo baiano justificam a construção da ponte como um impulso à cidade, mas essa ideia é considerada errônea. A expansão proposta pode resultar em perda de moradores nos bairros consolidados, especialmente em tempos de estabilidade populacional, levando à diminuição da vitalidade urbana.
O autor ressalta que essa realidade não é exclusiva da Bahia. Grande parte das cidades brasileiras enfrenta a falta de um planejamento coerente e integrado, deixando-se levar pelos interesses dos governantes. Magalhães observa que essa situação é comum em diversas metrópoles do país, onde a ideia de que o planejamento inviabiliza negócios prevalece.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde habitam cerca de 12 milhões de pessoas, a desconexão nas políticas de mobilidade resulta em tragédias cotidianas. O órgão responsável por isso se reuniu apenas uma vez em seis anos, o que ilustra a gravidade da situação.
O Metrô do Rio, que começou com a concepção de seis linhas, hoje opera apenas como uma única linha com múltiplas denominações. O investimento em obras como a Linha 4 extrapola limites financeiros, enquanto alternativas para novos trechos, como a Linha 3 para Niterói e São Gonçalo, permanecem inexploradas. Isso levanta questionamentos sobre a prioridade dada aos investimentos em transporte público.
Outro problema identificado por Magalhães é o sistema de trens da Supervia, que atende apenas 300 mil viagens diárias, muito abaixo de seu potencial. Com uma transformação adequada, o trecho da Supervia poderia quintuplicar esse número, promovendo uma melhoria significativa na mobilidade urbana e beneficiando o comércio e serviços nos subúrbios.
Recentemente, um estudo do BNDES para uma linha de VLT na Zona Sul foi anunciado, mas Magalhães aponta que o investimento poderia ser mais eficaz se direcionado para a reforma do sistema ferroviário existente em vez de criar novos modais que não atendem a necessidade da população.
A falta de planejamento e a opção pelo improviso afetam diretamente o cotidiano da população carioca, comprometedora da economia, saúde e bem-estar coletivo. Para Magalhães, a ação governamental carece do planejamento que deve contar com a participação da sociedade para que se possa construir um futuro urbano mais sustentável e integrado.
Sérgio Magalhães conclui que a administração pública deve se afastar do "rodoviarismo" e buscar alternativas que realmente considerem as necessidades das cidades e seus habitantes.