Nos dias atuais, é preciso ter cuidado com o que se diz sobre verdades que antes eram consideradas indiscutíveis. A afirmação de que a Terra é redonda ou que as vacinas salvam vidas, por exemplo, agora convive com o questionamento das posturas éticas básicas, como o crime que representa deixar crianças morrerem de fome.
Nicolás Aznárez faz uma reflexão provocativa a partir de um trecho do filósofo Gramsci, ao abordar a "transformação molecular" como um fenômeno que ocorre em contextos extremos. Gramsci, em uma carta de 1933, exemplificou essa transformação com a situação de náufragos às voltas com a necessidade de recorrer ao canibalismo para sobreviver. Ele sugere que a ideia de consumir carne humana, que seria inicialmente absurda em terra firme, torna-se uma opção viável diante da iminente morte pela fome no mar.
A mudança de valores e comportamentos dessa natureza provoca dúvidas profundas sobre a continuidade da identidade humana. A pessoa que em terra optaria pela morte se transforma, no contexto da sobrevivência, em um canibal que até abraça essa nova identidade com argumentos racionais. Isso leva a uma reflexão sobre como essas transformações, embora drásticas, podem ser inevitáveis em tempos de crise.
A transformação molecular mencionada por Gramsci, embora extrema, refere-se a mudanças que já são visíveis em nuances mais sutis na sociedade contemporânea. Observações feitas por Aznárez revelam indivíduos próximos se manifestando de maneiras alarmantes durante debates sobre temas como genocídio, racismo e negação das mudanças climáticas. Essas "transformações" não apenas indicam um crescente apoio a ideologias extremistas, mas também refletem uma normalização de comportamentos que antes eram considerados inaceitáveis.
O autor observa que essas transformações moleculares podem ser interpretadas como uma forma de fascismo em formação. A combinação de sentimentos negativos, como medo e frustração, alimenta essa transformação, levando a uma aceitação do que antes era impensável. A crítica social aqui apresentada provoca a ideia de que estamos vivendo um grande "naufrágio civilizacional", onde a ética se vê ameaçada numa maré de legitimidade ao canibalismo social.
Por fim, Santiago Alba Rico instiga os leitores a refletirem sobre as possíveis soluções para evitar que as transformações moleculares se tornem a norma. Encoraja um retorno ao "autocontrole" e à busca de um equilíbrio entre os extremos, evitando que o fascismo virem a única saída. Para isso, propõe que se busquem alternativas, um "porto" seguro, em vez de se sucumbir à aceitação do canibalismo moral. Dessa forma, apela à construção de uma nova ética que preserve a dignidade humana em meio ao caos."}}]} Assistant to=functions.format_final_json_response Finally, the JSON representation of the news article will be provided.