A designer asturiana Carlota Barrera vem se destacando na moda masculina, trazendo uma abordagem delicada e disruptiva que reflete sua perspectiva queer. Desde seu estúdio em Madrid, ela tem conquistado um espaço único no universo da sastraria, desafiando normas tradicionais e promovendo uma reflexão profunda sobre a masculinidade.
Com apenas 32 anos e oriunda de Gijón, Barrera abriu as portas de sua marca ao compartilhar experiências de desconexão nas temporadas passadas. Ela destacou: "Às vezes, na moda, parece que todos estão excelentes, mas eu passei momentos em que me afastei do que realmente desejava fazer. Ao olhar para trás, percebi que estava criando peças baseadas em objetivos que não refletiam minha visão pessoal.”
Em suas coleções mais recentes, a designer buscou um retorno às raízes, onde a qualidade das peças e atenção aos detalhes fazem toda a diferença. “Amo a qualidade e a atenção aos acabamentos, como garantir que as costuras das camisas tenham sete pontos por centímetro”, conta ela. O caminho para a moda começou quando se matriculou no London College of Fashion, onde foi inspirada pelas criações de renomados estilistas de menswear.”
Apesar de seu debut em 2018 ser repleto de camisas com aberturas verticais e esmóquins com cortes inovadores, Barrera também reflete sobre sua evolução como designer. Inicialmente, pretendia vestir homens vulneráveis, mas agora opta por uma visão mais ampla: “Todos nós temos nuances e complexidades.” Seu trabalho se concentra em projetar uma perspectiva feminina sobre o corpo masculino, comparando-o ao olhar artístico sobre esculturas gregas.
Além disso, Barrera acredita que a visão feminina reduz a cosificação, entendendo o sentimento de ser julgada. "Nós, mulheres, sabemos o que é ser observadas, e essa interação traz um respeito maior”, afirma. A sua roupa expressa essa filosofia, criando um diálogo sobre a masculinidade num ambiente que muitas vezes é restrito pelas normas tradicionais.
Sua abordagem permite que ela brinque com as regras da sastraria, alterando medidas e incorporando assimetrias, convidando a um novo olhar sobre o vestuário. “Me fascina entender como a moda masculina é construída e por que é tão rígida. Isso me leva a imaginar novas formas de fazer”, destaca.
Recentemente, a mudança para Madrid trouxe mais proximidade com os ateliês e artesãos que criam suas peças. Com a turma do estúdio preparando-se para apresentar a coleção de verão 2026 em Paris, Barrera enfatiza a importância da colaboração local. “Fiz o processo diretamente nos ateliês por um tempo, mas percebi que estava perdendo a essência divertida de criar”, relata, agora feliz por estar de volta ao seu ambiente criativo.