O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta segunda-feira, o presidente do Equador, Daniel Noboa, em uma visita oficial que destaca a busca por uma maior cooperação entre os países sul-americanos. O governo brasileiro tem enfatizado a importância de aprofundar laços em áreas como comércio regional, desenvolvimento sustentável e meio ambiente, especialmente diante da recente ofensiva tarifária do governo dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump.
\n\nO impacto das tarifas de importação foi sentido de forma desigual na América do Sul. Enquanto o Equador enfrentou uma sobretaxa de 15% sobre seus produtos exportados para os Estados Unidos, o Brasil sofreu um aumento de 50%. Essa disparidade na penalização reflete o panorama desafiador que o comércio regional enfrenta no atual cenário global. Esta é a primeira visita de Noboa ao Brasil desde sua reeleição, ocorrida em abril deste ano, e ele é conhecido por seu perfil político de direita.
\n\nDe acordo com Diogo Ives, pesquisador do Observatório Político Sul-Americano do Iesp-Uerj, a aproximação do Brasil com uma administração de direita pode ser proveitosa nesse contexto. Ives observa que, na esfera interna, o governo Lula se beneficia ao demonstrar abertura ao diálogo com regimes de ideologias diferentes, uma estratégia para neutralizar críticas da oposição sobre uma suposta preferência por alianças com governos similares ao seu.
\n\nAs discussões entre os dois líderes incluem também questões relacionadas ao meio ambiente. O Equador é um membro crucial da Pan-Amazônia, que recentemente ganhou destaque nas políticas externas do Brasil sob a gestão de Lula. O país se prepara para a COP30, que acontecerá em Belém, Pará, onde o Brasil pretende lançar o Fundo Global para Florestas Tropicais, beneficando áreas vizinhas.
\n\nOutra preocupação expressa por Ives é a necessidade de uma colaboração mais intensa em segurança, especialmente para combater o crime organizado e o narcotráfico, que cresceram significativamente na região Norte do Brasil e no Equador ao longo dos últimos anos. Além disso, Noboa manifestou planos de reverter a proibição de sediar bases militares estrangeiras em seu território, uma medida que foi barrada durante o governo anterior de Rafael Correa. Ives ressalta que esse movimento pode não estar em consonância com os interesses do Brasil, especialmente considerando a recente construção de uma base naval dos Estados Unidos na Argentina e planos para uma nova base na Guiana, o que poderia complicar o esforço brasileiro de criar uma integração regional mais autônoma em relação a potências globais.
\n\nO Equador faz parte da Comunidade Andina, da qual o Brasil não é membro, mas mantém uma associação. Em 2024, a corrente de comércio entre os dois países alcançou US$ 1,09 bilhão, com destaque nas exportações brasileiras para o Equador, que incluem produtos como papel, veículos automóveis, trigo e calçados. Por outro lado, as importações do Equador para o Brasil são compostas por chumbo, resíduos de metais não ferrosos, pescados e produtos de confeitaria.
\n\nApós a reunião no Palácio do Planalto, as autoridades dos dois países se reunirão para um almoço no Palácio do Itamaraty, dando continuidade ao diálogo entre as nações.