O programa Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai) tem revelado-se um verdadeiro divisor de águas na vida de inúmeras mulheres maceioenses com mais de 50 anos. Com o lema "Nunca é tarde para aprender", iniciativas como as de Flávia Maria e Quitéria Gomes mostram como a educação pode recuperar a autonomia e a autoestima, permitindo que essas mulheres reescrevam suas histórias.
O Ejai é voltado para aqueles com mais de 15 anos que não conseguiram completar o ensino básico em tempo regular. Além de oferecer a possibilidade de terminar os estudos, o programa assegura acesso a políticas públicas e auxílios governamentais, como cursos de iniciação profissional. Atualmente, 63,77% dos alunos matriculados em uma das 41 escolas públicas municipais que oferecem essa modalidade são mulheres, evidenciando o impacto positivo que a educação tem para este público.
Flávia Maria, aos 53 anos, decidiu voltar aos estudos após ter interrompido a sua educação na juventude. Antes de retornar à escola, enfrentava sérias dificuldades em realizar tarefas simples, como ler mensagens ou pegar ônibus. "Eu digo que quando você não sabe ler e escrever, é como se o seu cérebro tivesse uma página em branco. Por mais que você tenha o conhecimento da vida, falta o conhecimento da leitura", afirma Flávia, que agora se dedica ao quinto ciclo na Escola Municipal Nise da Silveira e se mostra determinada a concluir sua educação para poder comemorar essa vitória.
A rotina de estudos é desafiadora, mas Flávia se mantém motivada. "Eu tenho meu trabalho, minha família, minha casa, mas o conhecimento é algo que eu posso dizer que é meu e ninguém vai tirar", revela a aluna, ressaltando a importância que a educação teve em sua vida.
A experiência de Quitéria Gomes é igualmente inspiradora. Aos 52 anos, ela retomou os estudos que precisou abandonar aos 15 para criar seus filhos. Atuando como vendedora de cosméticos, Quitéria enfrentava sérias dificuldades com a escrita, o que afetava seu desempenho nos negócios. "Eu sempre precisava pedir para alguém anotar para mim os pedidos, hoje já não preciso mais. O estudo me deu essa liberdade", conta ela, que também está cursando o quinto ciclo na escola municipal Hermínio Cardoso.
Além de querer melhorar seu desempenho profissional, um desejo pessoal move Quitéria a estudar: a leitura da Bíblia. Sentindo-se constrangida por não conseguir acompanhar as leituras nos cultos, decidiu que a educação seria o caminho. Com o conhecimento adquirido, já consegue ler algumas palavras, aumentando ainda mais sua vontade de aprender. "O estudo se tornou tudo na minha vida. Não consigo expressar a sensação de saber ler, escrever e fazer as coisas por conta própria", conclui Quitéria, que já planeja novos cursos como informática após concluir o Ejai.