Evo Morales, o ex-presidente da Bolívia, está conduzindo uma campanha curiosa e polêmica: apesar de estar impedido de concorrer novamente à presidência e ser alvo de um mandado de prisão, ele faz apelos para que seus apoiadores votem nulo nas próximas eleições. O ex-líder político, que se encontra refugiado em um complexo remoto, busca manter sua influência em um cenário marcado por crises econômicas e divergências dentro do partido Movimento ao Socialismo (MAS).
Morales viveu por 14 anos na residência presidencial da Bolívia, mas atualmente, para encontrá-lo, é necessário encarar uma jornada de quatro horas por estradas montanhosas rumo a Lauca Eñe, onde está localizado seu abrigo. Esse local, cercado por aliados, serve como proteção contra os esforços do governo para prendê-lo. Como o primeiro presidente indígena da Bolívia, sua trajetória é marcada por significativos avanços sociais, mas também por controvérsias.
A trajetória política de Morales tomou um rumo conturbado após sua tentativa de conquistar um quarto mandato, que culminou com agitações sociais e sua fuga temporária para o exílio. Mesmo impedido judicialmente de se candidatar e respondendo a acusações graves, incluindo tráfico humano, ele ainda mantém apoio considerável entre os bolivianos, que veem as acusações como uma perseguição política.
Edith Mendoza, uma de suas apoiadoras, expressa: “Ele conquistou o respeito do povo. É o único presidente que esteve conosco”. Para muitos, a candidatura de Morales ainda era viável, e sua presença na política boliviana continua a ser influente, mesmo nas sombras.
Atualmente, o presidente Luis Arce, anteriormente aliado de Morales, não busca reeleição, o que gera um vácuo que Morales procura preencher. Ao convocar seus apoiadores para anular seus votos, a manobra é vista por algumas figuras do MAS como um gesto egoísta que pode favorecer a oposição de direita.
O clima político se torna ainda mais tenso enquanto Morales, cercado por seus leais, insiste que ainda é a melhor opção para a Bolívia. Ele afirma: “Não se trata de proteger o Evo — trata-se de proteger nosso processo e proteger a região”, destacando sua insistência em manter um papel relevante nesse cenário tumultuado.
Enquanto isso, sua sede de campanha é um espaço simples, marcado por fotos com outros líderes de esquerda, como Hugo Chávez e Fidel Castro. A memória de suas conquistas, que incluem a redução de desigualdades e a inclusão de setores até então marginalizados, ecoa nas conversas dos apoiadores que ainda resistem à nova dinâmica política.
Ademais, a relação de Morales com o atual governo se deteriorou, refletindo a polarização que persiste na política boliviana. As tensões entre ele e Arce não se limitam apenas ao passado, mas também se estendem a disputas pelo futuro do MAS e da própria Bolívia, onde problemas econômicos compõem um cenário cada vez mais instável.
Romina Solano, estudante de direito, critica Morales pela insistência em um quarto mandato, denunciando na sua postura uma falta de aceitação da democracia. Embora esteja longe da presidência, o ex-presidente ainda ocupa um espaço significativo nas intenções de voto, mostrando que sua influência, apesar das adversidades, não deve ser subestimada, especialmente nas áreas rurais do país.
