Panorama rápido da crise de geração distribuída
No último Dia dos Pais, o Brasil enfrentou quase um colapso no fornecimento de energia elétrica por causa da sobrecarga da micro e minigeração distribuída, a MMGD. Em minutos, a geração de energia solar atingiu um patamar tão elevado que o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisou desligar quase todas as usinas eólicas e solares centralizadas e reduzir o aproveitamento das hidrelétricas, sobrando apenas uma margem mínima de manobra, de duas gigawatts, para evitar o apagão.
Este episódio serviu como alerta para o sistema elétrico brasileiro e evidenciou que o crescimento acelerado da MMGD, como ocorre hoje, traz riscos reais de segurança e elevação de custos para todos os consumidores.
Esse episódio foi mais um alerta ao sistema elétrico brasileiro. Ele mostrou que o crescimento acelerado da MMGD, como acontece hoje, traz riscos reais de segurança e aumento de custos para todos os consumidores.
O funcionamento da rede elétrica depende de equilíbrio contínuo entre oferta e demanda, bem como da manutenção da tensão, da frequência e da estabilidade da rede. Quando milhões de pequenos geradores injetam energia ao mesmo tempo, sem que o operador tenha visibilidade ou instrumentos de coordenação, a rede fica frágil — é como conduzir um carro em alta velocidade sem freio diante de imprevistos.
Não basta reforçar apenas a transmissão
Há quem afirme que os problemas se resolvem apenas com mais linhas de transmissão. Esse é um equívoco perigoso. O episódio recente deixou claro que não basta reforçar a transmissão. Mesmo com a construção de novas linhas, a MMGD continuará pressionando o sistema, porque não oferece ao operador os recursos de estabilidade que as grandes usinas entregam.
Além disso, erguer infraestrutura de transmissão apenas para absorver a geração distribuída seria economicamente inviável, pois exigiria bilhões de reais em obras que não resolvem a raiz do problema. Esse custo, inevitavelmente, acabaria recaindo sobre todos os consumidores, inclusive aqueles que não possuem condições de instalar painéis solares.
Impactos e desequilíbrios no curto prazo
Portanto, a MMGD, da forma como avança hoje, gera distorções: transfere custos de manutenção e reforço da rede para quem não possui geração própria e, ao mesmo tempo, expõe o sistema a riscos de instabilidade. Não é justo nem sustentável manter esse modelo sem ajustes.
Por isso é essencial adotar regras modernas que condicionem a expansão da geração distribuída a critérios técnicos claros, buscando o equilíbrio do sistema e a distribuição adequada dos custos. O objetivo é garantir que a transição energética não comprometa a segurança elétrica nem onere ainda mais a conta de luz dos brasileiros.
O debate exige franqueza: o crescimento da MMGD precisa ocorrer dentro de limites que respeitem a rede e a coletividade. Sem esses limites, corre-se o risco de trocar um futuro mais sustentável por um presente instável e caro.
Marcos Madureira é presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica.