Setor Calçadista Brasileiro Enfrenta Aumento de Desemprego em Outubro
A indústria brasileira de calçados terminou o mês de outubro de 2025 com suas maiores quedas de emprego em uma década, encerrando o período com 1,65 mil postos de trabalho fechados. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o setor conta agora com 294,22 mil empregos diretos, apresentando uma retração de 0,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
A situação é alarmante, uma vez que é a primeira vez em 2025 que o estoque total de empregos no setor ficou abaixo do patamar de 2024, revertendo a tendência de crescimento que vinha sendo observada anteriormente. De acordo com as estimativas da Abicalçados, a continuidade da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos pode resultar na perda de até 8 mil postos de trabalho diretos em 2026, se não houver uma reversão da situação até o final do ano.
As tarifas adicionais sobre importações foram anunciadas pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e começaram a surtir efeito em agosto. Essa medida resultou na maior taxa de impostos sobre produtos estrangeiros nos últimos cem anos, afetando uma série de países e seus mercados de exportação. No caso do Brasil, cerca de 22% dos exportadores de calçados foram impactados.
Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, destacou que a tarifa adicional trouxe consequências drásticas para o setor, com períodos significativos de demissões. "Entre os estados que mais perderam postos de trabalho estão o Rio Grande do Sul e São Paulo, que são os principais exportadores de calçados para os Estados Unidos", afirmou Ferreira. Cerca de 80% das exportações brasileiras de calçados se dirigem aos EUA, um mercado que apresenta características próprias e demanda produtos que diferem daqueles enviados para outros lugares.
A economista Priscila Linck, coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, reforçou a importância do mercado americano para as exportações brasileiras, que representa cerca de 20% das receitas totais. "A maior parte do volume exportado para os Estados Unidos é comercializada na modalidade private label, ou seja, com a marca do cliente local", explicou Linck. Diante do cenário adverso, a indústria tenta diversificar seus destinos por meio do programa Brazilian Footwear, que atualmente atua em mais de 160 países.
No Rio Grande do Sul, o principal estado empregador do setor, foram perdidas 910 vagas apenas em outubro, totalizando 1,83 mil demissões nos últimos três meses, desde a entrada em vigor da tarifa. Em São Paulo, a situação também é preocupante, com a perda de 152 postos, a maioria deles em Franca, onde a indústria calçadista é a principal fonte de emprego.
Frente a esse contexto desafiador, algumas empresas têm evitado cortes, mesmo diante da queda nas demandas. Frederico Wirth, representante da Indústria de Calçados Wirth localizada na Região Metropolitana de Porto Alegre, expressou sua preocupação: "A gente tem trabalhado com os clientes americanos com algum prejuízo, aguardando para ver se o tarifaço se resolve logo".
Para 2026, a Abicalçados projeta que a produção nacional deve se manter estável, com uma expectativa de crescimento de até 0,2% em cenários otimistas ou uma queda de 1,1% nos piores cenários. As exportações podem variar entre uma alta de 3,1% ou uma retração de 0,2%. Entretanto, a continuidade das tarifas pode fazer com que esses números se aproximem das estimativas mais pessimistas. Priscila Linck alerta: "Com a continuidade do tarifaço, muitas empresas irão rever seus investimentos e planos, especialmente aquelas que dependem fortemente do mercado americano. O risco de perda de 8 mil empregos será maior na Região Sul (51%), seguida pelo Sudeste (28%) e Nordeste (22)%".