Nova revisão publicada na Harvard Review of Psychiatry conclui que a posse de armas de fogo em residências aumenta o risco de suicídio em 3 a 5 vezes e pode intensificar comportamentos abusivos, com base na análise de mais de 400 estudos, dos quais 81% foram conduzidos nos Estados Unidos. O estudo agrega evidências de diversas nacionalidades até março de 2023, oferecendo transparência sobre como a disponibilidade de armamentos pode moldar decisões em momentos de crise emocional.
Principais achados da revisão
A avaliação conjunta aponta que as armas representam três vias principais de influência sobre a saúde mental e o comportamento. Primeiro, elas funcionam como instrumentos a que as pessoas recorrem durante crises ou períodos de sofrimento intenso. Em termos de desfecho, o suicídio responde por uma fatia significativa dessas situações, reforçando o elo entre disponibilidade de arma e risco extremo.
Em segundo lugar, a simples presença de armas de fogo pode alimentar sentimentos negativos, ao contrário de promover uma sensação de conforto ou segurança. A literatura revisada sustenta que o ambiente doméstico com armamentos tende a associar-se a estados emocionais mais negativos, o que pode facilitar ciclos de vulnerabilidade psíquica.
O terceiro mecanismo envolve o uso das armas para exercer controle, seja dentro do lar ou fora dele, o que pode se traduzir em comportamentos abusivos. Ao ampliar a capacidade de coação, as armas podem agravar dinâmicas de violência doméstica.
Declaração de especialistas e citações
Entendendo que todas as pessoas estão suscetíveis a fragilidades humanas, a possibilidade de haver ferramentas altamente letais disponíveis nas mãos da população em geral, em vez de aumentar a sensação de segurança e de proteção e melhorar a regulação emocional do indivíduo, acaba tendo efeito contrário, como vemos nos estudos. Evidencia as fragilidades emocionais, aumenta a sensação de medo e a agressividade, com elevação de casos de assédios e violênciadisse o psiquiatra Rodolfo Furlan Damiano, autor correspondente do artigo, em entrevista à Agência FAPESP.
Implicações para políticas públicas
Os autores pedem que políticas públicas analisem evidências apresentadas pela revisão para orientar regulamentações de armas e estratégias de proteção da saúde mental. A leitura recomenda considerar o conjunto de dados observado em diferentes países, com foco na redução de fatores de risco associados à posse de armamentos.
Contexto brasileiro e dados recentes
No Brasil, o registro de porte de armas aumentou 3,2% entre 2023 e 2024, totalizando 2,154 milhões de registros no Sistema Nacional de Armas (Sinarm). Os dados constam no Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, que reúne mapas, estatísticas e tendências relevantes para o tema de segurança pública e saúde mental.
Conexões internacionais e relevância regional
A revisão reuniu principalmente estudos realizados nos Estados Unidos, com 81% dos trabalhos localizados no país, o que destaca a necessidade de interpretar os resultados com cautela ao serem aplicados a contextos nacionais divergentes. Ainda assim, os pesquisadores ressaltam que as implicações da presença de armas em domicílios vão além de métricas de mortalidade, impactando padrões de comportamento, bem-estar emocional e relações interpessoais em várias sociedades.
Perspectivas futuras
Os autores concluem defendendo uma análise crítica de políticas públicas que leve em conta evidências empíricas sobre armas, saúde mental e violência. A expectativa é de que novas abordagens regulatórias e programas de prevenção considerem a complexidade das relações entre disponibilidade de armas, sofrimento emocional e dinâmicas de poder no nuclear familiar, com impactos potenciais para a redução de crises e incidentes violentos no futuro.