Mercados de empregos verdes no Brasil crescem com transição energética
A transição energética impulsiona o mercado de empregos verdes no Brasil, com vagas em alta para engenheiros de energia renovável, especialistas em sustentabilidade e eficiência energética. Salários podem chegar a R$ 80 mil, e São Paulo concentra mais de 40% das oportunidades, enquanto o Brasil figura como o terceiro maior empregador global no setor, com cerca de 1,5 milhão de profissionais.
Panorama do mercado: categorias em expansão
Uma pesquisa da Indeed identifica cinco grandes grupos em franco crescimento: engenheiros de energia renovável, engenheiros ambientais, profissionais de sustentabilidade/ESG, especialistas em veículos elétricos e funções ligadas à eficiência energética. Entre eles, os profissionais de sustentabilidade foram os que mais se destacaram, com participação que dobrou ao longo do período analisado.
Concentração geográfica e oportunidades locais
A geografia da demanda também chama atenção: São Paulo sozinha responde por mais de 40% das vagas, seguida por Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que juntos concentram cerca de 80% de todas as oportunidades anunciadas. A tendência aponta para a escala futura do mercado verde diante da descarbonização da economia, do avanço das fontes renováveis e da pressão regulatória e social por práticas mais sustentáveis.
— O Brasil é o terceiro maior empregador global no setor de energia renovável, atrás apenas da China e da União Europeia, com 1,5 milhão de profissionais. Essa posição reflete a abundância de recursos naturais e uma matriz energética diversificada — afirma Alexandre Mendonça, gerente da consultoria Robert Half.
Salários e cargos: o efeito da expansão
Com o aumento da demanda, salários em cargos estratégicos sobem. Um estudo da Robert Half mostra que posições ligadas aos empregos verdes se destacam em áreas como governança financeira, fusões e aquisições e tesouraria estruturada. Segundo a pesquisa, salários chegam a R$ 80 mil para um Chief Financial Officer (CFO), enquanto diretores de M&A e tesouria atingem R$ 63 mil e R$ 66 mil, respectivamente. Em nível gerencial, salários nessas áreas chegam a R$ 40 mil. Já especialistas em eficiência energética e sustentabilidade recebem, em média, entre R$ 15 mil e R$ 18 mil, sem contar bônus e benefícios.
Esses valores mostram que a transição energética não cria apenas empregos técnicos em parques solares ou eólicos, mas também carreiras de alto nível em áreas financeiras, jurídicas e regulatórias. A expansão do mercado livre de energia, a entrada de novos players internacionais e o crescimento das energytechs têm impulsionado a demanda por consultores, gestores e executivos com conhecimento do setor.
Qualificação e competências para o novo cenário
— A formação tradicional continua sendo a base, mas precisa ser complementada com conhecimentos em sustentabilidade, regulamentação ambiental e tecnologias digitais — afirma Ronaldo Teixeira, gerente sênior de engenharia de projetos da Aggreko na América Latina. Profissionais capazes de unir expertise técnica, digitalização e compliance ambiental ganham particular valorização, especialmente aqueles com perfis híbridos que combinam Engenharia, Economia ou Direito com competências de inovação e tecnologias emergentes. — A tomada de decisão em energia depende cada vez mais de informações em tempo real, por isso engenheiros e técnicos precisam dominar softwares de monitoramento, plataformas digitais e ferramentas de análise de dados, sem abrir mão da capacidade de propor soluções criativas e sustentáveis — completa Teixeira.
Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul, que lidera o grupo de empregos e habilidades verdes (green skills) da Sustainable Business COP30, aponta que engenheiros devem projetar soluções em energias renováveis e integrar tecnologias digitais; economistas precisam dominar instrumentos como precificação de carbono e análise de risco climático; advogados devem se preparar para lidar com regulações ambientais em constante evolução. — O caminho para reduzir a lacuna entre formação e empregabilidade passa por integrar teoria, prática e atualização contínua. É preciso transformar a educação em uma ferramenta efetiva de transição justa — afirma Segrera.
— Valores como responsabilidade ambiental e respeito à diversidade são diferenciais no setor, porque asseguram que o profissional entregue resultados técnicos e seja também um agente de transformação — completa Segrera.
Desafios da qualificação e lacunas de mercado
Apesar do dinamismo, a escassez de mão de obra qualificada continua entre os maiores entraves à transição. O Future of Jobs Report 2025, do Fórum Econômico Mundial, mostra que apenas 13% da força de trabalho global possui competências verdes, enquanto a procura por esses talentos cresce duas vezes mais rápido do que a oferta. O estudo estima que, até 2030, serão necessários pelo menos 12 milhões de novos empregos verdes em dez grandes economias, incluindo o Brasil. — Existe uma lacuna clara na oferta de profissionais preparados. Hoje faltam, por exemplo, 2,5 milhões de eletricistas no mundo — observa Segrera.
Para lidar com esse desafio, a Schneider investe em programas de qualificação e parcerias estratégicas com instituições de ensino, como o Senai. Só no Brasil, a companhia já capacitou mais de 53 mil pessoas em eletricidade, automação e energias renováveis, em conjunto com universidades e organizações sociais.
Na Aggreko, a estratégia tem sido investir na formação de jovens talentos e contratar profissionais das comunidades próximas a seus projetos. — Isso gera emprego, fortalece a economia local e cria vínculos de longo prazo. Para jovens e pessoas em transição de carreira, esse é um momento de muitas oportunidades — destaca Teixeira.
Retenção de talentos e caminhos futuros
Já as consultorias apontam que a disputa por profissionais qualificados está intensificando os esforços de retenção. — Com taxa de desemprego de apenas 3% para profissionais especializados, as empresas buscam cada vez mais fidelizar seus talentos, oferecendo planos de carreira e pacotes de benefícios robustos — diz Mendonça, da Robert Half. Ele lembra que essa escassez também abre portas para profissionais de áreas de suporte, como jurídico e financeiro, que encontram no setor de energia uma oportunidade de se especializar e crescer. Com quase metade da matriz energética brasileira baseada em fontes limpas — índice muito superior à média global —, o país parte de uma posição privilegiada para gerar empregos de qualidade e liderar a agenda de descarbonização. Mas, como resume Segrera, “a transição verde só será justa se vier acompanhada de formação adequada e de oportunidades reais de empregabilidade”.