O que aconteceu
Um vazamento de óleo proveniente de um caminhão utilizado para a remoção de borracha na pista — conhecido como desemborrachador — levou o Aeroporto Santos Dumont a permanecer fechado por 12 horas, gerando o cancelamento de 162 voos e a transferência de parte da demanda para o Galeão, na Ilha do Governador. Segundo a administração do aeroporto, a limpeza ocorreu durante o período em que a operação normalmente fica suspensa para manutenção, mas as medidas de segurança implicaram no fechamento total da pista.
O incidente teve início na madrugada, por volta das três da manhã, quando o motor do caminhão vazou óleo, exigindo uma resposta imediata para evitar riscos aos pousos e decolagens. O veículo, comum em ambientes aeroportuários, tem como função remover borra de borracha deixada pelos freios das aeronaves, com o objetivo de manter o atrito adequado entre as aeronaves e o solo para pousos subsequentes.
Para a limpeza, a Infraero utilizou um desengraxante biodegradável aliado à água de carros de combate a incêndios, que dispensam jatos de alta pressão para a retirada de resíduos da pista. A composição específica do pavimento exige procedimentos minuciosos de higienização para assegurar os níveis de atrito entre aeronaves e solo, segundo nota oficial emitida pela empresa.
Impactos na operação e na malha aérea
O fechamento total do Santos Dumont provocou um efeito cascata na malha aérea, com cancelamento de 162 voos no dia, e a redistribuição de parte desses voos para o Galeão, que recebeu voos de origem ou destino originalmente previstos para o Santos Dumont. Além disso, 93 voos de Congonhas, um dos principais pontos de conexão do país, foram cancelados ou ajustados devido aos desajustes na malha aérea gerados pela interrupção no Rio de Janeiro.
Enquanto as operações permaneciam indisponíveis, os passageiros vivenciaram atrasos, mudanças de itinerário e dificuldades para obter informações consistentes sobre o status de seus voos. A reabertura da pista foi gradual, com a expectativa inicial de normalizar as pousos e decolagens entre 10h e 14h, mas as previsões foram alteradas ao longo do dia, estendendo o funcionamento até as 18h30 para recuperar parte da demanda perdida. O horário de funcionamento do Santos Dumont, normalmente encerra às 23h, precisou ser ampliado para acomodar os atrasos acumulados.
Resposta da Infraero e detalhes da operação de limpeza
Segundo a Infraero, a organização “utilizou todos os recursos disponíveis para liberação da pista no menor prazo possível” e descreveu a limpeza como necessária para restabelecer os níveis de atrito entre aeronaves e solo. Além do desengraxante biodegradável, foram empregados jatos de água de carros de combate a incêndios para remover resíduos da pista. A instituição ressaltou que a pista, com 1.323 metros de comprimento e 42 metros de largura, requer cuidados especiais para que a superfície volte a oferecer condições seguras de operação.
No total, o incidente provocou impactos não apenas no Rio, mas também em outros aeroportos do país. O congestionamento gerou cancelamentos em Congonhas e modificações significativas na malha aérea, evidenciando a interdependência entre aeroportos no Brasil.
Relatos de passageiros e o dia no saguão
No saguão, passageiros afetados relatavam frustração com a falta de informações rápidas e de vouchers de alimentação, além de queixas sobre a assistência fornecida pela companhia aérea e pela administração aeroportuária. Maria Freire, 23 anos, e Louise Gomes, 40, estavam em uma equipe de cerca de 20 pessoas com voo marcado para São Paulo. Embora tenham embarcado, permaneceram no voo até as 9h, quando foi decidido que o embarque seria cancelado. “É uma equipe grande e, agora, todos nós estamos aqui sem saber o que fazer. Nossos clientes estão esperando lá. Já perdemos a reunião”, lamentou Maria.
Outro passageiro, Lohran de Oliveira, 35, estava com destino a Brasília para supervisionar a construção de uma pista de skate, com prazo de entrega até o fim de novembro. O atraso comprometeu o cronograma de trabalho, destacando que atrasos como esse afetam não apenas indivíduos, mas também empresas que empregam pessoas em nível nacional. O engenheiro Marcelo Gomes, convidado a embarcar às 6h20, viu o embarque remarcado para 10h40, mas também não ocorreu. “Esta semana eu precisava estar em São Paulo até as 10h. Isso gera impactos não só para minha empresa, mas para o país”, comentou.
Com a aglomeração de passageiros no saguão, surgiram reclamações sobre a falta de informações consistentes e de suporte financeiro direto para despesas extras. O Procon Carioca informou que está apurando denúncias de falta de apoio a passageiros e orientou que todos guarde os comprovantes de gastos decorrentes do atraso, para eventual ressarcimento ou providências cabíveis.
Contexto e dimensão do Santos Dumont
A Infraero aponta que o Santos Dumont recebe em média 30 mil pessoas por dia, conectando o Rio aos principais destinos do país. A pista principal, na qual o derramamento de óleo ocorreu, tem dimensões de 1.323 metros de comprimento por 42 metros de largura. Entre janeiro e maio deste ano, o aeroporto figureu como o décimo mais movimentado do país, com 2,4 milhões de passageiros, atrás apenas de Guarulhos, em São Paulo, que lidera o ranking com 11,6 milhões de passageiros.
Perspectivas futuras e lições de segurança
Especialistas destacam que, mesmo diante de incidentes de manutenção como esse, a aviação continua entre as formas de transporte mais seguras do mundo, justamente pela rigidez de seus protocolos de segurança e pela capacidade de responder rapidamente a situações de risco. O coronel aviador e escritor Silvio Monteiro Júnior reforçou esse ponto, ao apontar que a antecipação de riscos é fundamental para evitar acidentes. “Há casos de pássaros quero-quero que interrompem o pouso e decolagem. Outros riscos são causados por balões. Quando se vislumbra uma possibilidade de risco, suspende-se tudo. Isso que torna o transporte aéreo o mais seguro”, disse ele.
Além disso, o incidente expôs a necessidade de coordenação entre agências, companhias aéreas e órgãos reguladores para mitigar impactos em cenários de interrupção operacional. O episódio também serve como lembrete de que o dia a dia de um aeroporto envolve não apenas a logística de voos, mas também o bem-estar dos passageiros, que dependem de informações rápidas, assistência adequada e condições de reembolso ou compensação quando situações imprevisíveis atrapalham planos de viagem.
Conclusão: implicações para o setor
Em síntese, o fechamento do Santos Dumont por 12 horas, causado por um vazamento de óleo de um caminhão desempborrachador, evidencia a estreita relação entre segurança, logística e atendimento ao passageiro. Ainda que o episódio gere prejuízos operacionais, traz à tona a necessidade de protocolos mais eficientes de resposta a incidentes para reduzir impactos na mobilidade e garantir padrões de atendimento aos usuários. O episódio também reforça a importância de que órgãos reguladores, companhias e gestores aeroportuários trabalhem de forma integrada para manter a confiabilidade do sistema de aviação brasileira, mesmo em situações de manutenção e imprevistos.