A Prefeitura de São Paulo anunciou na última segunda-feira, 6 de outubro de 2025, a realização de um novo Censo da População de Rua, com previsão para ser realizado ainda neste ano. A informação foi confirmada pela gestão municipal durante uma licitação, realizada no dia 1º de outubro, que marca o início deste importante processo de levantamento de dados.
O último Censo realizado pela prefeitura ocorreu em 2021 e foi publicado em 2022, mas seus dados divergem significativamente daqueles obtidos por outras iniciativas e pelo governo federal. A atualização do Censo é considerada essencial por especialistas para a formulação de políticas públicas mais eficazes voltadas às pessoas em situação de rua.
De acordo com uma pesquisa do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), aproximadamente 109.981 pessoas estão vivendo em situação de rua na Grande São Paulo, com 98.666 delas na cidade. Esses números representam 90% do total, em contraste com os dados da prefeitura, que indicam apenas 31.884 pessoas nesta situação. Essa discrepância levanta questões sobre a precisão dos dados coletados e a real extensão do problema da população em situação de rua na capital paulista.
A prefeitura tem contestado as informações do governo federal, mas não atualiza sua base de dados desde o último Censo. Segundo Cláudia Adão, assistente social e doutora pela Universidade de São Paulo (USP), essa falta de atualização prejudica a capacidade do poder público de entender a verdadeira dimensão do problema. Ela explica que o CadÚnico registra cada atendimento, o que pode levar a uma superestimação dos números devido a potenciais atendimentos duplicados.
Em contraste, o Censo da Prefeitura é realizado em uma única noite, servindo como uma "fotografia" do momento, mas não abrange a totalidade das pessoas em situação de vulnerabilidade. O ideal, segundo especialistas, seria uma metodologia que cruzasse os dados do CadÚnico com o Censo, além de levantar informações sobre a população em situação de rua com maior frequência.
Além de São Paulo, a situação é complexa em outras cidades da Grande São Paulo, como Guarulhos, onde o mapeamento da população em situação de vulnerabilidade não é realizado. Segundo o CadÚnico, mais de 2.700 pessoas vivem nas ruas dessa cidade, mas a prefeitura local informou que não possui dados atualizados sobre a situação, embora planeje realizar um levantamento próprio em 2026.
Em 2025, cerca de 3.000 pessoas passaram a viver em situação de rua somente no primeiro trimestre, aumentando o total para 96.220 em março, comparado a janeiro, quando eram 93.355. O estado de São Paulo registrou um aumento similar, com 143.509 pessoas em situação de rua em março, ante 140.543 em janeiro. Dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), indicam que 84% dessas pessoas são homens e 81% sobrevivem com até R$ 108 por mês, enquanto mais da metade não completou o ensino fundamental ou sequer possui escolaridade, refletindo a grave vulnerabilidade enfrentada por esse grupo.