Um estudo recente revelou que setenta por cento das praias brasileiras estão contaminadas por microplásticos, fragmentos plásticos que comprometem a segurança alimentar e a saúde humana. De acordo com a pesquisa publicada na revista Environmental Research no dia 24 de setembro, 69,3% das 1.024 praias analisadas apresentaram contaminação por microplásticos. Esses fragmentos têm menos de cinco milímetros e podem impactar negativamente a biodiversidade marinha. O levantamento é parte do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), sendo considerado o mais extenso de sua natureza não apenas no Brasil, mas em todo o Sul Global.
Guilherme Malafaia, professor do IF Goiano e coordenador da pesquisa, destacou a importância do estudo, afirmando que "conseguimos uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos nas praias brasileiras". O projeto gerou um banco de dados inédito que permitirá uma análise mais aprofundada das áreas mais afetadas, além de servir como base para futuras ações de mitigação dos danos.
A pesquisa também constatou que a concentração de microplásticos é apenas uma parte do problema. Os pesquisadores enfatizaram a importância de detectar não apenas a presença do plástico, mas também identificar quais fragmentos são mais perigosos. Thiarlen Marinho da Luz, doutorando pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e primeiro autor do artigo, afirmou: "A principal mensagem do projeto é entender onde estão os mais perigosos e quais áreas apresentam os maiores riscos".
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) está ciente das pesquisas e anunciou a Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), uma iniciativa que visa prevenir e reduzir a poluição por plástico nos oceanos até 2030. Em nota, o MMA ressaltou a necessidade de ação conjunta para combater a poluição em todo o ciclo de vida do plástico, desde sua produção até sua disposição final.
No estudo, foram coletadas 4.134 amostras de areia em praias de 211 municípios ao longo de 7,5 mil quilômetros de litoral brasileiro. Os estados com as maiores concentrações de microplásticos identificados foram Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco. A praia de Barrancos, em Pontal do Paraná, registrou a maior densidade com 3.483,4 itens de microplástico por quilo de areia.
Os pesquisadores também calcularam o Índice de Perigo do Polímero (PHI), que avalia a toxicidade dos microplásticos encontrados. Os estados com os níveis mais altos nesse índice incluem Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. Embora Barrancos tenha a maior quantidade de microplásticos, a Praia Paraíso em Torres (RS) alcançou a primeira posição no índice de risco ecológico, devido à presença de materiais considerados mais tóxicos como o PVC.
Os microplásticos podem interferir nas cadeias alimentares marinhas e, apesar de não representarem um risco direto imediato para os banhistas, eles podem absorver metais pesados e outros contaminantes, sendo um sinal de perigo potencial. Malafaia alertou que a proximidade de áreas urbanas e o descaso com a gestão de resíduos são fatores que exacerbam a poluição. Para solucionar o problema, o estudo sugere ações urgentes como manejo adequado de resíduos e metas de monitoramento regional.
Por fim, a luta contra a poluição por plásticos enfrenta resistência. Em um acordo recente da ONU, países produtores de petróleo bloquearam iniciativas para combater o problema da poluição plástica. No Brasil, dois projetos de lei tramitam para restringir plásticos de uso único e estabelecer políticas mais sustentáveis. A expectativa é que a ENOP impulsione mudanças significativas na forma como a sociedade lida com o plástico.
Thiarlen Marinho da Luz acredita que a consciência social sobre o problema é crescente, mas ainda há um longo caminho a percorrer para que a população se mobilize em busca de soluções efetivas.