Pesquisa revela preocupante afastamento de professores em SP
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, em parceria com o Sindicato dos Professores e Funcionários Municipais de São Paulo (Aprofem), revelou dados alarmantes sobre a saúde dos educadores da rede municipal de São Paulo. O estudo mostrou que 63,5% dos mais de 2.500 professores entrevistados se afastaram de suas atividades nos últimos 12 meses devido a problemas de saúde.
Entre os problemas mais relatados, destacam-se a pressão alta (17%), diabetes (5%), problemas ortopédicos (5%), respiratórios (4%) e de coluna (3%). As doenças mentais também têm um papel significativo, com mais de 84% dos educadores relatando transtornos de saúde mental, incluindo 37% com ansiedade e 36% com ansiedade e depressão simultaneamente.
Desafios enfrentados pelos educadores
A situação de Vera Cardoso de Paula Assis, uma professora de educação física com oito anos de experiência, ilustra bem a realidade enfrentada por muitos educadores. Após sofrer um acidente que deixou sequelas, Vera relata que sua condição de saúde piorou quando foi agredida por um aluno, levando-a a depender de uma cadeira de rodas.
“A escola não estava preparada, só tinha essa sala que era acessível, que é a sala que o pessoal usa para eleição. As pessoas não vinham conversar comigo, a não ser as crianças”, disse Vera.
Outro relato comovente é de uma professora grávida, que enfrenta uma rotina exaustiva de deslocamento de cerca de duas horas e meia para chegar ao trabalho. A angústia de sua gestação de alto risco, aliada ao estresse do trajeto, causa apreensão sobre a saúde dela e do bebê.
Violência e estresse na profissão
Os resultados da pesquisa também revelaram que 62,5% dos educadores foram vítimas de algum tipo de violência no último ano, sendo a violência verbal e a intimidação as mais comuns. Um professor não identificado relatou ter sofrido agressões físicas por um aluno, o que impactou sua carreira e o deixou desempregado.
“Eu estava ministrando minha matéria quando pedi que um aluno entregasse o celular. Ele começou a me insultar e partiu para a agressão física”, relatou.
A vice-presidente da Aprofem, Margarida Prado Genofre, acredita que a situação pode mudar. "Se a gente não acreditar na educação, podemos pegar o boné e ir embora. Porque educar é transformar. A educação precisa de apoio," afirmou, destacando a importância de apoio nas políticas educacionais.
Ponto de vista da Secretaria Municipal da Educação
A Secretaria Municipal da Educação, em resposta às denúncias, afirmou que o número de licenças médicas de professores diminuiu entre 16% e 20%, dependendo da série. O secretário municipal da Educação, Fernando Padula, não se pronunciou durante as solicitações de entrevista feitas pela TV Globo, mas a secretaria afirmou ter implementado o programa Rede Somos, que conta com 340 profissionais para tratar das demandas de saúde mental dos educadores.
Apesar dos esforços, mais da metade dos entrevistados afirmaram que não escolheriam a profissão novamente. Mesmo assim, Vera mantém vivo o sonho de retornar à sala de aula, refletindo sobre as dificuldades enfrentadas: "É como se você fosse imprestável. Eu sinto que minha carreira acabou. É algo que você não prevê quando estuda tanto, faz tantas pós-graduações…".