Faltando apenas um mês para a COP 30, a cidade de Belém foi palco de um importante debate sobre a emergência climática, reunindo figuras como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o líder indígena Ailton Krenak. O evento, mediado pelo jornalista Merval Pereira e coordenado por Míriam Leitão, destacou tanto o otimismo quanto o ceticismo diante dos desafios da conferência internacional.
A atriz Fernanda Montenegro, que completará 96 anos em breve, encorajou Marina Silva com uma mensagem inspiradora: "Vá para o impossível. Nós vamos chegar lá". Durante sua fala, Marina enfatizou a urgência de tratar a emergência climática como uma questão primordial, ressaltando que a meta da COP 30 é se tornar um marco referencial para os próximos dez anos. Apesar do otimismo, a ministra expressou preocupações sobre a adequação das metas nacionais (NDCs) apresentadas pelos países, afirmando que muitas estão aquém do necessário.
Ailton Krenak trouxe um tom de ceticismo ao debate, alertando que o sistema econômico atual ameaça a sustentabilidade do planeta e que os países ricos costumam postergar suas responsabilidades em crises ambientais. "Acho que o sistema econômico vai moer o planeta até o último grão de areia antes que considerem pagar a conta do desastre ambiental", disse Krenak, abordando as tragédias climáticas como crises cujas responsabilidades muitas vezes são difusas.
A gravidade da situação foi sublinhada por Marina Silva, que citou o impacto das guerras e eventos climáticos no mundo, dizendo: "As guerras que têm nos horrorizado ceifam 260 mil vidas, enquanto tragédias climáticas, como enchentes e incêndios, ceifam pelo menos 500 mil vidas, e esse número está subnotificado". A ministra destacou a incongruência entre a indignação gerada por guerras e a difusão das responsabilidades no caso das tragédias climáticas.
A discussão também abordou o legado da COP 30, sendo desenvolvida a ideia de que a conferência pode salvar o multilateralismo climático. Marina lembrou que, na COP 28 realizada em Dubai, um importante passo foi dado: foi reconhecido oficialmente a necessidade de transitar para o fim do uso de combustíveis fósseis.
Krenak, refletindo sobre os desafios da luta ambiental, comentou que os dados apresentados pelos Painéis do Clima parecem ignorar realidades mais amplas, como as emissões geradas por armamentos. Ele questionou a validade de determinadas análises que não consideram questões extremas, enquanto os países ricos trabalham na criação de fundos que podem não ser suficientes para resolver os problemas existentes.
O debate, que se estendeu por uma hora e meia, revelou uma polaridade entre o pessimismo lúcido e o idealismo pragmático. Marina compartilhou memórias emocionantes de seu passado como defensora ambiental, enquanto Krenak se manteve nas realidades duras da luta pela preservação do planeta. A luta ambiental, como ressaltou, é realizada por aqueles que acreditam no impossível – inspirados por vozes como a de Fernanda Montenegro.