Crítica à Gestão do Setor Elétrico
O setor elétrico brasileiro enfrenta sérias críticas em sua gestão, especialmente em relação à transição energética que, segundo o especialista Edvaldo Santana, se tornou um "tour-de-farsa". Um dos principais problemas identificados é a desordem na geração distribuída de energia solar, que resulta em desperdício e aumenta o risco de apagões.
Ineficácia da Geração Solar Durante a Noite
A ironia do sistema é que, enquanto há um excesso de energia solar durante o dia, à noite há cortes. Santana descreve essa situação como a criação de um "sistema bipolar", no qual o país alterna entre abundância e escassez. Apesar de o Brasil ter potencial para gerar energia solar abundante, a falta de planejamentos adequados acabou criando um problema de baixa confiabilidade do sistema.
Consequências do Desperdício de Energia
A proliferação desordenada da geração distribuída sem os devidos controles gerou um monstro. Durante os picos de demanda, a energia solar gerada não consegue atender o que é necessário, levando ao curtailment. Essa prática resulta em excessos de eletricidade subsidiada sendo jogados fora, evidenciando a ineficiência do sistema. Santana destaca que o custo desse desperdício pode ultrapassar R$ 70 bilhões até 2029, oneração que será transferida para o consumidor.
A Energia Perdida e o Risco de Apagões
Num cenário alarmante, apesar da energia ser desperdiçada entre 10h e 14h, o sistema vê sua confiabilidade comprometida. A necessidade de se aumentar rapidamente a geração após o pôr do sol, conhecida como rampa ou curva do pato, acentua o risco de apagões, especialmente em períodos de seca nas hidrelétricas. Assim, o consumidor, particularmente os que não possuem telhados próprios para geração de energia, arca com os custos da ineficiência alheia.
O Papel dos Lobbies e da Política
Edvaldo Santana também aponta que a situação atual é agravada por lobbyings e uma atuação governamental que não prioriza a sustentabilidade do sistema. Nas palavras do autor, o governo facilitou um modelo de negócio insustentável, onde interesses privados prevalecem sobre a necessidade de um planejamento eficiente para a energia renovável. Com isso, os esforços de incentivos às energias renováveis se tornaram uma "virtude transformada em vício".
Um Futuro Incerto
Com as articulações políticas em andamento, a conta do desperdício energética pode ser repassada para o consumidor comum, o que traz à tona a pergunta: até quando o Brasil permitirá que sua transição energética se transforme em uma farsa? A crítica contundente acaba por revelar o abismo entre a intenção e a execução das políticas energéticas, deixando um legado de desperdícios e insegurança no fornecimento de energia.
*Edvaldo Santana é doutor em engenharia de produção e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina, além de ter sido diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica.