O Peru vive um momento de intensa instabilidade política, tendo seu sistema unicameral contribuído para uma situação singular que permite um impeachment expresso. A recente destituição da presidente Dina Boluarte, ocorrida na madrugada de 9 de outubro, levanta questões sobre a fragilidade da liderança no país, que já teve sete presidentes em apenas sete anos.
Após a votação unânime no Congresso, que aprovou o afastamento de Boluarte por 122 votos favoráveis e nenhum contrário, o novo presidente José Jeri agora se depara com a desafiadora tarefa de concluir o mandato até abril de 2026. Desde 2018, a política peruana tem sido marcada por uma série de mudanças de governo, onde figuras como Ollanta Humala e Pedro Castillo também enfrentaram dificuldades em manter-se no cargo até o fim de seus mandatos.
A crise política do Peru é em parte atribuída à Constituição que possibilita ao Legislativo realizar um impeachment rápido. Os motivos que levaram à queda de Boluarte incluem graves acusações de corrupção, como o caso Rolexgate - que investiga a posse não declarada de relógios de luxo - e sua queda na popularidade, que chegou a níveis alarmantes, entre 2% e 4% de aprovação, além de um recente ataque a uma banda popular que chocou o país.
O novo presidente José Jeri, que ocupa a função de chefe do Congresso, afirmou em seu primeiro discurso que "devemos declarar guerra ao crime", enfatizando a necessidade de enfrentar as gangues de extorsão que têm se proliferado no Peru.
Sobre a formação política, o Peru opera sob um sistema unicameral, que foi implementado em 1993 após um autogolpe do então presidente Alberto Fujimori. Essa estrutura legislativa simplificada, que em vez de duas câmaras conta com apenas uma, permite que os projetos sejam aprovados sem as demoras que normalmente ocorrem em sistemas bicamerais. Entretanto, especialistas apontam que a ausência de uma segunda câmara pode resultar em leis de menor qualidade.
A política peruana tem mostrado a fragilidade das instituições e a falta de confiança da população em seus líderes. A relação conturbada entre presidentes e o Congresso, que tem sido tensa desde a presidência de Kuczynski, revela a dificuldade em se manter um governo estável. A história recente demonstra que, apesar de todos os esforços, nenhum presidente conseguiu completar um mandato desde 2016, exceto Dina Boluarte, que se torna recordista de permanência no cargo com quase 3 anos de governo.
O destituído Pedro Castillo, que tentava dissolver o Congresso antes de sua prisão, havia enfrentado múltiplos processos de impeachment. Essa prática, de acordo com a Constituição, se torna uma realidade constante no cenário político do Peru, refletindo uma instabilidade que desafia a capacidade de governar do país.
Além da presidência, o governo peruano conta com a figura do presidente do Conselho de Ministros, que atua como uma espécie de premiê, embora a política ainda seja dominada por um sistema presidencialista. Essa configuração apresenta um conjunto de desafios únicos, especialmente em tempos de crise como o atual.