Em meio à defesa do presidente da Junta de Andaluzia, Juan Manuel Moreno, sobre a gestão da saúde no fechamento do congresso regional do PP, milhares de pessoas protestavam nas ruas da comunidade, exigindo a sua demissão. Essa manifestação ocorreu após um histórico de descontentamento crescente em resposta ao que muitos consideram um fraco desempenho nas políticas de saúde por parte do governo andaluz. Este foi um grito que ganhou força especialmente a partir do dia 8 de outubro, com a primeira concentração voltada para o suporte a mulheres afetadas por atrasos nos diagnósticos de câncer de mama.
Casos como os de Maria José Romero, aposentada com dificuldades para marcar consultas, e Sandra Morán, que precisou operar em uma clínica privada após mais de dois anos de espera para a remoção de quistos, refletem a emergente crise no setor de saúde. "Os cribados são apenas a ponta do iceberg da crise que se estende por todo o sistema de saúde pública", afirmou Kati, auxiliar de ajudante social que assistiu à manifestação com sua família.
A primeira manifestação em defesa da saúde pública ocorreu em novembro de 2022, após Moreno conquistar a maioria absoluta. Embora o governo tenha anunciado diversos planos para melhorar os serviços, como a redução das filas para consultas, a percepção de deterioração apenas aumentou entre usuários e trabalhadores da saúde, que se sentem sobrecarregados devido à carência de profissionais e falta de substituições.
Ana Puy López, funcionária do Centro de Saúde de Cenes, em Granada, expressou sua preocupação com a falta de condições para atender os pacientes: "Nos prometeram 35 pacientes por dia, mas lidamos atualmente com 50 ou mais". A pressão é tão alta que muitas equipes se veem obrigadas a trabalhar horas extras, o que prejudica sua vida pessoal.
Médicas residentes, como Eva Jiménez, também relataram a dificuldade em lidar com o alto número de pacientes, evidenciando que a situação se tornou insustentável. O governo andaluz alega que os problemas dos cribados afetam principalmente a região de Sevilha, mas as grandes manifestações em diversas capitais, como Málaga e Granada, demonstram que a insatisfação é abrangente e se estende a todo o estado.
Em protestos que reuniram multidões em várias cidades, como em Almería, onde Fernando Plaza da Marea Blanca declarou que o aumento orçamentário em saúde não se reflete na qualidade do atendimento, muitos expressaram sua mágoa e dissidência contra as políticas adotadas. Elena, uma participante em Sevilha, enfatizou que a luta pela qualidade do sistema de saúde é fundamental: "Estamos lutando pelo futuro de nossos filhos e pela herança de nossos avós". O descontentamento vai além da gestão atual, com os manifestantes clamando por uma saúde pública universal e de qualidade.
No final da marcha em Sevilha, enquanto os discursos ecoavam em frente ao Palácio de San Telmo, o descontentamento se transformou em uma grande manifestação, com números estimados entre 12 mil - segundo a polícia - e até 30 mil, segundo os organizadores. A presença de manifestantes, que pediam por justiça na saúde pública e denunciavam o que consideram uma deterioração sistemática da saúde em Andaluzia, sugere que o debate sobre a saúde pública na região apenas começou.