Nos últimos anos, clubes de elite como Barcelona, Chelsea e PSG têm investido intensamente em jogadores cada vez mais jovens, refletindo uma tendência crescente no futebol mundial. Max Dowman, por exemplo, debutou na Premier League aos 16 anos, enquanto Estêvão quebrou recordes na Champions aos 18 e Yamal, ainda sem 19, já soma mais de 100 partidas pelo Barcelona. A formação de jovens talentos tornou-se não apenas uma estratégia de mercado, mas uma necessidade para as agremiações que desejam se destacar nas competições internacionais.
O impacto das ligas na formação de talentos
A La Liga se destaca nesse movimento, com cerca de 19,8% dos minutos jogados na última temporada sendo ocupados por atletas formados nas categorias de base. Em comparação, ligas como a Bundesliga, a Premier League e a Serie A com percentuais muito menores, revelando a força dos canteranos, especialmente em clubes como o Barcelona, onde 49,3% dos minutos disputados foram por jogadores formados em La Masía. A média de idade atual do elenco do Barça é de 25,4 anos, um dos principais motivos apontados para seu sucesso. Ivan Rakitic, ex-jogador do clube, elogiou o trabalho feito na base: "Não existe idade. Existe estar pronto ou não".
Investimentos e resultados
A La Liga, em um esforço contínuo para fortalecer sua base de jogadores, lançou em 2022 o "Plano Nacional de Optimização e Melhora da Base", que já liberou cerca de 150 milhões de euros para aprimorar os 230 projetos esportivos. Juan Florit Zapata, responsável pela área de projetos esportivos da La Liga, explicou que o foco em talentos formados na base está trazendo resultados financeiros significativos, com aproximadamente 300 milhões de euros arrecadados nas últimas janelas de transferências apenas com jovens canteranos.
O rejuvenescimento da Premier League
A Premier League também segue essa tendência, embora tenha avançado de maneira irregular entre os clubes. Apenas dois times, Manchester City e Chelsea, chegaram a dar mais de 15% dos minutos nesse período para jogadores formados em suas academias. Notavelmente, a média de idade da equipe do Chelsea é de 24,3 anos, e a liga exige que cada clube inscreva um mínimo de oito jogadores "home grown", ou seja, formados nas categorias de base.
O panorama no Brasil
Enquanto ligas europeias se organizam para fomentar a utilização de jovens talentos, o Brasil enfrenta desafios semelhantes. A transferência de Vinícius Júnior do Flamengo para o Real Madrid, realizada quando ele tinha 16 anos, exemplifica como jovens brasileiros estão saindo cada vez mais cedo do país. Nos últimos dez anos, 50% dos R$ 16 bilhões arrecadados com transferências de talentos brasileiros vieram de jogadores com até 20 anos. Contudo, a falta de uma liga profissional e incentivos claros para clubes formarem e utilizarem esses atletas em suas equipes principais pode resultar em um retrocesso, à medida que prioridades comerciais prevalecem sobre o desenvolvimento a longo prazo.
Desafios e soluções na formação de atletas
As consequências do treinamento precoce e da exposição à pressão competitiva são preocupantes. O doutor Vincent Gouttebarge, do FIFPro, ressalta que a saúde física e mental dos jovens atletas pode ser comprometida se as cargas de trabalho não forem adequadas ao seu desenvolvimento. "O cérebro dos jogadores jovens ainda está em desenvolvimento, e lesões na cabeça nesses anos de desenvolvimento podem impactá-los significativamente". Com dados reveladores apontando que 95% dos atletas de base não chegarão ao profissionalismo, a CBF lançou a estratégia "CBF IMPACTA", visando transformar as categorias de base no país e oferecer a esses jovens um futuro mais promissor no futebol.