Ex-funcionária da UE detida por suposto esquema de fraude
A antiga alta representante da União Europeia para Assuntos Estrangeiros, Federica Mogherini, foi detida como parte de uma investigação sobre um suposto esquema de fraude com fundos europeus destinados à formação de jovens diplomatas. A ação faz parte de uma operação do Ministério Público Europeu (EPPO), que resultou em três detenções e em registros em várias instituições, incluindo o Serviço Europeu de Ação Exterior (SEAE) e o Colégio de Europa em Brujas, onde Mogherini atua como diretora.
As investigações têm como foco um projeto da Academia Diplomática da União Europeia, um programa de nove meses destinado a diplomatas em formação, que foi concedido ao Colégio de Europa em 2021 após um procedimento de licitação. A EPPO investiga se houve favorecimento a candidatos específicos no processo licitatório, com a suspeita de que informações confidenciais tenham sido vazadas, comprometendo a integridade da concorrência.
”A polícia federal realizou registros em vários edifícios do Colégio de Europa, no SEAE e nas residências dos suspeitos, a pedido da EPPO e com a aprovação de um juiz”, informou o Ministério Público Europeu. Esta investigação surge em um contexto já marcado por escândalos anteriores envolvendo instituições da União Europeia, como o Qatargate, que envolveu alegações de subornos a eurodeputados por países como Qatar e Marrocos.
A identidade do terceiro detido não foi divulgada, mas também está sob investigação o diplomata italiano Stefano Sannino, ex-secretário geral do SEAE e atualmente diretor geral do departamento de Oriente Médio e Norte da África na Comissão Europeia. Fontes indicam que a detenção de altos funcionários lança uma sombra sobre a credibilidade das instituições europeias.
A EPPO, que conta com o apoio da Oficina Europeia de Luta contra o Fraude (OLAF), procura confirmar se o Colégio de Europa teve acesso antecipado às especificações da licitação, o que geraria uma violação das normas de concorrência justa na contratação pública. Este tipo de corrupção é especialmente crítico, pois prejudica a confiança pública nas instituições e nos processos de governança europeus.
Uma porta-voz da Comissão Europeia confirmou que a polícia esteve nas instalações do SEAE, mas se negou a oferecer informações adicionais, citando a natureza da investigação em andamento. Essa reserva é comum em investigações não concluídas, mas a pressão da opinião pública e a necessidade de transparência se tornam cada vez mais fortes à medida que as investigações avançam.
Mogherini, que foi ministra de Relações Exteriores da Itália de 2014 a 2019, assumiu a direção do Colégio de Europa em setembro de 2020 e, desde agosto de 2022, lidera a Academia Diplomática da UE, atualmente sob investigação. No passado recente, ela participou de eventos de alto nível, representando a Comissão Europeia em discussões sobre cooperação na região do Mediterrâneo.
A detenção de pessoas para interrogatório é um procedimento habitual na Bélgica, mas casos envolvendo figuras de alto escalão, como ex-comissários, são relativamente raros e frequentemente atraem atenção significativa da mídia e do público. A situação atual poderá resultar em repercussões políticas e jurídicas que afetam a confiança nas instituições da União Europeia.
Por enquanto, nenhum comentário oficial foi feito por líderes europeus sobre as detenções, e a expectativa é de que novos desenvolvimentos surjam à medida que a investigação se desenrola.